A volta ao mundo através do álcool
Meu primeiro porre foi de rum com coca-cola. E a ressaca durou vinte anos, tempo que levei para colocar a bebida na boca novamente. O reencontro deu-se na Nicarágua, país cujo orgulho nacional está engarrafado e selado com o rótulo Flor de Cañas. Enquanto estive por lá, tomei rum todo santo dia. Amei o rum. Venerei o rum. Ele retribuiu descendo, enfim, macio. Enamorada do álcool que, à seu modo, marcou a minha adolescência, carreguei o peso de vários litros da bebida na mala. De volta à vida real, voltei a abominá-la.
E as garrafas jazem em meu armário, semi-intactas.
Este ano foi a vez da tequila, líquido subversivo que sempre associei às piores ressacas morais. Uma vez no México, gamei. Descobri o maravilhoso mundo da tequila premium e, copinho a copinho, adquiri a resistência de um cangaceiro. Herradura, Quita Peñas, Don Julio… Junto a elas sobrevoei o Atlântico de volta a Barcelona, certa de que jamais seria capaz de digerir um alimento sem a ajuda de um traguito.
E as garrafas jazem em meu armário, semi-intactas.
Meu bar privê também conta com um carregamento de txacolis que trouxe da última viagem ao País Basco. E eles jazem ao lado das vodkas com capim de alimentar bisontes que garimpei Lituânia.
Antes que arraste um carregamento de Anís del Mono na próxima viagem que se aproxima, aos confins da Catalunha, faço aqui uma reflexão: a bebida, assim como muitas coisas na vida, precisam de um contexto. E, no Mediterrâneo, sempre cai melhor uma cavinha, à despeito do meu estoque alcoólico globalizado. Eu hei de lembrar-me disso da próxima ver que for acometida por uma nova paixão etílico-cultural.
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