Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Restaurantes escondidinhos de Barcelona que valem a viagem, parte 5

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 15h54 - Publicado em 18 nov 2010, 14h01

O climinha intimista do Mariona: não muda nunca, ainda bem!

Este restaurante mudou a minha vida – literalmente. E não só por ter o melhor filé com foie gras fresco e molho de trufas de todo o universo. Foi no Mariona que descolei o meu primeiro trabalho em Barcelona, há dez anos. Foi lá, também, que aprendi a falar catalão. E isso foi apenas o começo. Portanto, é inevitável que este post tenha um tom pessoal e levemente sentimentalóide. Se você quer ir direto ao assunto, pule os três parágrafos seguintes.

O Mariona é um daqueles lugares que nunca mudam. E o tipo de lugar que as pessoas vão justamente porque não querem novidades. Querem a comida impecável de sempre, o ambiente intimista de sempre, o jeitinho informal de sempre, os pôsteres de sempre, o gigantesco globo de papel de sempre e, principalmente, o atendimento de sempre, pelas pessoas de sempre. A maioria dos clientes é fiel e pouquíssimos estrangeiros aparecem.

Ainda que o dono —  Manolo Batlló, figura carimbada da soiçaite catalã — esteja sempre por lá, a alma do restaurante atende pelo nome de Marta. Com o fôlego de dez Ivetes Sangalos, e sempre amparada pelo fiel escudeiro Santi, é ela quem recebe os clientes e cuida de cada detalhe porta adentro. Tanto a Marta como o Santi levam 26 anos no restaurante. Ou seja, estão lá desde que aquele lugarzinho no bairro elegante de San Gervasi começou a funcionar como tal.

Durante o ano em que trabalhei ali, ela se tornou uma mistura de amiga com irmã mais velha, a quem eu contava os meus problemas e com quem dava infinitas risadas e entrava madrugadas adentro em farras que deixaram saudade. Quando eu me atrasava (afe, era difícil ter uma vida regrada naqueles loucos anos de deslumbre), ela me ligava acabando com a minha raça. Mas depois não conseguia conter a gargalhada quando eu descia a escada do mezanino de ressaca, me arrastando pela parede (até hoje comenta-se por lá que a parede, sem mim, nunca mais foi a mesma). Ela foi, e ainda é, uma das pessoas mais importantes para mim aqui em Barcelona (já devo ter dito isso pra ela movida por alguns copos a mais e suspeito que ela não bote muita fé nisso).

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Ontem jantei na Mariona, depois de um longo período de lamentável ausência. Meu deus, que comida. Em realidade, acho que aprendi o que era comer realmente bem enquanto trabalhava ali. Antes de morar na Espanha, eu era apenas uma comilona. Mas não me ligava na sutileza dos detalhes. Enfim, estava mais para Shrek do que para Alexandra Forbes. De qualquer forma, hoje em dia, com o paladar apurado e um nível de exigência milhões de vezes mais alto, continuo tirando o meu chapéu para o Mariona e o considerando um dos melhores restaurantes da cidade em sua faixa de preço (uns € 35 por pessoa).

O chef, Jordi, é marido da Marta e tem uma bagagem peso-pesado. Durante muitos anos foi o cozinheiro do A Contraluz, do Grupo Tragaluz, um dos maiores e mais bem sucedidos de Barcelona (só para citar alguns: Hotel Omm, Restaurante Tragaluz, La Xina, Bar Lobo, Cuinas Santa Catarina).

O tal do filé com foie gras: de comer ajoelhado

Mas voltando àquele filé do primeiro parágrafo. A carne dissolve na boca e Jordi não erra no ponto (tenha sempre em mente que o “ao ponto” na Espanha equivale ao nosso “mal passado” e que “poco hecho”  aqui é praticamente cru). E a fatia de foie que vem montada sobre o bife vem com uma película crocante (vocês têm ideia de como é difícil conseguir isso como um ingrediente tão “derretível” quanto o foie gras?). O molho de trufas é abundante sem ser enjoativo e as batatinhas que acompanham estalam por fora e são macias por dentro. Ontem o chef me deu um pito: “De vez em quando você bem que podia comer outra coisa, né?”. Pois é… mas fica difícil. Da próxima vez prometo provar o “hambúrguer” de atum fresco.

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A melhor tarta tatin da sua vida

Enquanto o filé é sempre uma certeza, o momento de escolher a entrada é eterno motivo de angústia. Terrina de foie mi cuit com geleia de moscatel em cubinhos? Só não peço para não comer foie na entrada e na saída (se bem que ontem o meu namorado atacou de “foie-foie” e fiquei com invejinha). Resolvi provar as alubias (uma espécie de feijão avermelhado e gordinho) com almejas (o meu marisco preferido, disparado). Amo as combinações “mar e montanha” que se faz por aqui. E essa é matadora.

Por fim, a sobremesa. A tarta tatin (de maçãs, para quem não conhece essa sobremesa clássica) é a melhor que já comi na vida. E não se fala mais no assunto.

Depois do cafezinho, deixe uma gorjeta daquelas, porque a minha Mariona merece.

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Peço desculpas pela má qualidade das fotos, feitas com celular.

O andar de cima, mais aconchegante

O salão “secreto”, dentro da cozinha: ideal para grupos de amigos

Anote aí: Carrer Amigó, 53, 93/201-1830. De terça a sábado 13h/15h30 e 21h/22h30. Domingo 13h/15h30. De segunda a sexta, na hora do almoço, há um menu de preço fixo com excelente custo-benefício a € 18. Se você estiver num grupo de amigos, um programa interessante pode ser reservar o salão-esconderijo, que fica dentro da cozinha. Cabem umas 15 pessoas. Reservar é fundamental de quinta a domingo: prefira o andar de cima, mais aconchegante.

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