Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Sobre os mullets e a estética catalã

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 16h16 - Publicado em 12 nov 2007, 21h11

Sob o efeito de doses cavalares dos alucinógenos dos anos 70, a humanidade passou os 80 acometida por uma espécie de surto antiestético coletivo. Durante essa estranha década, o mundo foi assombrado por ombreiras gigantes, calças semi-bags, polainas, óculos de hastes fosforescentes e outras pérolas da indumentária cuja existência jamais será compreendida pelos estudiosos do comportamento humano.

 

Nada, porém, sofreu mais metamorfoses bizarras do que os pobres cabelos. Enquanto as terríveis permanentes transformavam algumas mulheres em ovelhas eletrocutadas (lembro de ter chorado ao ver a minha avó voltando do cabeleireiro embaixo dos terríveis caracóis do seu cabelo), outros cidadãos sucumbiam ao pior corte de todos os tempos: os mullets, nome internacional para as tenebrosas madeixas que se agarram, solitárias, às nucas das pobres vítimas, enquanto um hediondo tufo de fios arrepiados “enfeita” a parte frontal da cabeça.

 

Passada essa epidemia de mau gosto, as fotos que registrassem o menor resquício de mullets passaram a ser incineradas ou trancadas no mais obscuro dos baús, na tentativa de apagar esse passado negro. Nadando contra a corrente, porém, restaram os jogadores de futebol argentinos, Xitãozinho, Xororó, Roberto Carlos e… os catalães.

 

Sim, minha gente. Por aqui os mullets são cool. Ainda. E podem ter as mais curiosas variações. Dreadlocks atrás e cabeça raspada na frente, mega tufo crespo atrás e micro franja de um centímetro na frente, penachinho loiro atrás e franja de Cleópatra na frente, e por aí vai. Jamais fui em busca de bases científicas sobre esse tema, mas duvido que alguma outra cidade do mundo tenha tantas perruquerias (não, não são lojas de perucas, a palavra quer dizer cabeleireiro em catalão) por quarteirão: duas, no mínimo. Muda-se de corte de cabelo com uma freqüência absurda.

 

Vale tudo para ser o mais fashion. E quanto mais supermoderno for o estabelecimento, mais chances você tem de sair de lá com um cabelo estapafúrdio (tenho muito, mas muito, medo dos perruqueros catalães). E neste quesito a La Pelu é hors concours. Além de ser uma mistura de salão com galeria de arte, abre em noite de lua cheia (assim os seus mullets crescem mais robustos), com direito a DJ e drinques entre uma tesourada e outra. E também vão atrás dos seus clientes nas discotecas mais cool da cidade para dar um jeito nas madeixas no meio da balada. Para não acordar na maior ressaca moral da sua vida – de mullets – aconselha-se passar longe.

 

 

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