Cunha: hospedagens, restaurantes, cerâmica, lavanda e mais

Por Adrian Medeiros Atualizado em 19 jun 2023, 18h50 - Publicado em 17 jun 2023, 10h06

 

Por Mirela Mazzola

Conhecida como a terra dos ceramistas, Cunha abriga charmosos ateliês e pousadas ideais para casais em busca de sossego. Os principais atrativos da cidade se distribuem pela simpática área urbana, repleta de ladeiras, e pela estrada que leva a Paraty. A via faz parte do Caminho Velho da Estrada Real, usado para escoar o ouro do interior de Minas Gerais para o litoral do Rio de Janeiro no século 17. Entre uma curva e outra, a rodovia descortina belas paisagens de serra – e também dá acesso a restaurantes, um lavandário, uma cervejaria e a um dos núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar, com trilhas e cachoeiras. 

QUANDO IR

Entre abril e outubro, especialmente no meses de inverno, as temperaturas agradam quem espera o friozinho da serra. Cerca de cinco vezes por ano, normalmente em feriados, ocorrem as aberturas de fornada (costuma-se encher os fornos de peças de cerâmica antes de acendê-los), em eventos abertos ao público.

Há mais de duas décadas, em julho, o Festival de Inverno anima a cidade com concertos, corais, apresentações de dança e teatro, oficinas, exposições de cerâmica e um festival gastronômico. Mais recente, o Festival Verão na Montanha – Cunha Fest ocorre em janeiro e traz shows gratuitos de jazz, blues, soul, rock e MPB à Praça da Matriz. As atividades da cidade costumam ser anunciadas na página da Prefeitura Municipal de Cunha.

COMO CHEGAR

Saindo de São Paulo, é possível pegar o  sistema Ayrton Senna-Carvalho Pinto (SP-070), com pedágios, até Taubaté, e seguir pela Via Dutra (BR-116) – também dá para sair da capital por essa rodovia. Em Guaratinguetá, entre na Rodovia Paulo Virgínio e siga por 48 km até chegar a Cunha. 

COMO CIRCULAR

A área urbana concentra os ateliês de cerâmica que fazem a fama da cidade e algumas pousadas. A maioria das hospedagens e os passeios de natureza são acessados pela cênica SP-171, que liga Cunha a Paraty – o carro é indispensável para quem deseja conhecer esses atrativos.

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O QUE FAZER

Terra da cerâmica

A queima em forno noborigama, artefato milenar criado na China e difundido no Japão, é a primeira e mais tradicional técnica usada entre os ceramistas de Cunha (também há equipamentos elétricos, a gás e o chamado raku, em forma de tambor). Construído em declive, o noborigama é alimentado por lenha e seu interior ultrapassa os 1.300 °C – durante alguns meses, ele é abastecido com peças de argila moldadas a mão. Quando preenchido, o forno é ligado em duas queimas durante mais de 30 horas. Ao esfriar, a abertura da fornada, que acontece cerca de cinco vezes por ano, já se tornou o grande evento no calendário da cidade. Na técnica da queima de raku, as peças recebem acabamento ainda incandescentes – visitantes também podem assistir ao processo. Lembrando que a visita aos ateliês e a venda de peças, entre decorativas e utilitárias, ocorre o ano todo. 

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Dois imigrantes trouxeram a arte da cerâmica a Cunha na década de 1970 e mantêm seus ateliês até hoje: a japonesa Mieko Ukeseki (do Ateliê Mieko e Mário)  e o português Alberto Cidraes, do Ateliê do Antigo Matadouro.

Também usam a técnica noborigama os ateliês Suenaga e Jardineiro e Oficina de Cerâmica, de Leí Galvão e Augusto Campos. São outros nomes conhecidos na cidade Flávia Santoro, Atelier Gallery Tokai, Gaia Arte Cerâmica e Carvalho Cerâmica.

O ateliê Yas e Brisa transforma argila em difusores e colares para aromaterapia. A ceramista Erica Cassinha também fabrica lindas peças que têm um ótimo custo/benefício. Outros ceramistas expõem na Casa do Artesão.  

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Em vez de argila, prata e pedras brasileiras viram arte nas mãos dos artesãos do Lápis Lazúli, ateliê que produz joias sem cola ou solda para incrustar as pedras no metal, usando apenas a pressão de um martelo.

Um mapa com a localização dos principais ateliês está disponível nas pousadas e no Posto de Informações Turísticas, localizado no Portal da cidade.

Entre serra e mar

As paisagens verdejantes de Cunha se dividem entre a Serra da Bocaina e a Serra do Mar. O núcleo Cunha-Indaiá do Parque Estadual da Serra do Mar fica sediado na cidade (para chegar à portaria é preciso percorrer 20 km de estrada de terra) e oferece trilhas com cachoeiras e vegetação nativa da Mata Atlântica. São elas: 

Rio Paraibuna – a trilha autoguiada percorre 1 700 m entre araucárias em cerca de uma hora. Passa por três cachoeiras e poços para banho. Não é preciso agendar.

Rio Bonito – com 7,6 km de percurso, dura cerca de 4h30, com grau de dificuldade alto (saídas às 10h). O principal atrativo é a Cachoeira da Laje, com poço para banho. No caminho é possível avistar pegadas de animais como anta, queixada e onça-parda.

Cachoeiras – é a mais longa, com 14,5 km, e também dura cerca de 5h30 – metade do caminho pode ser percorrida em veículo próprio (saídas às 10h). O trajeto acompanha o Rio Paraibuna, passando por duas quedas d’água, até chegar à Cachoeira do Rio Ipiranguinha.

Trilha das Arapongas (de bicicleta própria) – apesar de ser autoguiada, é preciso agendar. A trilha percorre 12 km em cerca de 3h margeando o Rio Paraibuna e duas cachoeiras. O caminho era uma antiga estrada usada por moradores locais.

A sede abre todos os dias, das 8h às 17h. A entrada e as trilhas são gratuitas, mas é preciso agendar as trilhas monitoradas no escritório urbano do parque (Praça Midair José Teodoro, n°101, Falcão, ou por telefone e e-mail, 12-3111-1818/2353, pesm.cunha@fflorestal.sp.gov.br). Se for passar o dia no local, leve lanche, pois não há restaurante ou lanchonete.

As belezas da Paraty-Cunha (SP-171)

Uma das estradas mais cênicas do Sudeste, a SP-171 (RJ-165, quando adentra o estado do Rio de Janeiro) é repleta de pousadas, restaurantes e atrações entre uma curva e outra. Em 2016, depois de anos sem pavimentação, o trecho final de cerca de 9 km por dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina ganhou calçamento de paralelepípedo e passarela para circulação de animais silvestres até Paraty, transformando a via em uma bonita estrada-parque.

No km 54,7, O Lavandário começou como uma plantação de matéria-prima para produzir essências e hoje é um ponto turístico. O terreno, com 20 mil pés de lavanda, abre aos fins de semana e é florido o ano todo. Além de boas fotos, você pode levar produtos à base da planta (e também de manjericão, alecrim e verbena) feitos ali mesmo, como óleos essenciais e cosméticos. 

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Mais adiante, 4 quilômetros após o Lavandário, encontra-se O Olival. O Brasil não tem tradição em produção de oliveiras, mas nos últimos anos este mercado tem surpreendido com o surgimento de pequenos produtores de azeite de oliva. N’O Olival é possível fazer degustação de azeites e também almoçar (mediante reserva). Curiosidade: as oliveiras “escutam” música clássica. Segundo os idealizadores do lugar, “a música pode entrar em ressonância com frequências de oscilação natural das folhas, afetando o estado energético das clorofilas e aumentando, consequentemente, a fotossíntese”.

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Pertinho d’Olival fica um outro lugar onde é possível apreciar lavandas, mas que é menos incensado que o Lavandário. O lugar chama O Contemplário e, para além das lavandas, há também plantio de ervas e trilhas a se percorrer. Há também uma lojinha, café e um único chalé onde é possível pernoitar. A vista é das mais incríveis, com um deque delicioso e janelões de vidro.

A estrada Paraty-Cunha também reserva ótimas trilhas. Com acesso pelo km 65,5 da SP-171, a Pedra da Macela é um dos cartões-postais de Cunha. A vista a 1 850 m é impressionante e alcança a Ilha Grande e as baías de Paraty e Angra dos Reis. A partir do estacionamento, são 2 km de caminhada íngreme até o topo. O esforço só não valerá a pena se o céu estiver encoberto: você não verá nada além de nuvens.

Do outro lado da pista, a Cervejaria Wolkenburg usa ingredientes vindos da Alemanha e água das nascentes do próprio sítio para fabricar quatro tipos de cerveja (Dunkel, Landbier, Helles e Fit), sem conservantes ou aditivos químicos, uma delícia! Nos fins de semana e feriados, a visita à cervejaria começa com uma explicação sobre os tipos da bebida e termina com degustação. Além da venda no local, a produção é distribuída apenas na cidade.

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ONDE FICAR

Cunha reúne pousadas na medida para casais tanto no Centro quanto na estrada que liga a cidade a Paraty – nelas, a vista para a serra costuma ser um plus. A paisagem cercada por montanhas da Quinta da Serra é imbatível entre as pousadas da cidade. São apenas quatro chalés, com lareira, camas queen-size e varanda com rede (metade tem hidro). Na Pousada Candeias, os chalés de tijolo aparente têm três tamanhos e estão distribuídos em um bem-cuidado bosque. A bela vista da Estalagem Shambala é compartilhada pelas suítes e chalés – todas as unidades têm lareira e varanda com rede (os chalés contam ainda com hidromassagem). O café da manhã, até 11h30, reúne itens preparados ali mesmo, como coalhada, queijos, pães e geleias. 

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Quase em frente ao O Lavandário, a Pousada da Mata tem duas piscinas (uma de água mineral), sauna e jacuzzi. No salão do café da manhã (onde também são servidas refeições à la carte) a estrela é o fogão a lenha com chapa para aquecer pães e queijos. Diferentes entre si, as acomodações da Pousada dos Anjos são pontuadas por detalhes charmosos, como móveis de antiquário, salamandras e paredes de pedra. Construída com pau-a-pique há mais de 200 anos, a chamada casa histórica é indicada para famílias e grupos de amigos, pois tem três quartos, dois banheiros e cozinha completa com fogões a lenha e a gás. Na Pousada dos Girassóis há chalés para casais e para até quatro pessoas – o lazer inclui piscina, pomar e lago para pesca. 

Perto do Centro, a Pousada Cheiro da Terra tem um diferencial interessante: um ateliê de cerâmica onde os hóspedes podem fazer as próprias peças com o acompanhamento de técnicos. Também na área urbana, próxima aos ateliês, a acolhedora Recanto das Girafas parece uma extensão da casa dos donos, Marisa e Renato Freitas. Eles estão à frente de tudo: do café da manhã às noites de bate-papo embaladas pelo piano ao vivo. Na mesma região, a Pouso Caminho das Artes tem chalés e suítes com lareira em um terreno compacto. 

Para famílias com crianças, são boas alternativas a Fazenda Alvorada, com piscina, cavalgadas guiadas e lago para pesca, e o Hotel Fazenda São Francisco, que abriga cachoeira, trilhas e mini-fazenda (nesse último, as diárias têm pensão completa). 

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ONDE COMER 

Cunha tem restaurantes no centro e também ao longo da SP-171, que liga a cidade a Paraty (atente para os horários de funcionamento, muitos só abrem aos fins de semana). O La Taverne Bistrô fica em um sítio agradável na estrada de acesso à Pedra da Macela. Pães, antepastos de cogumelos e queijos são de produção própria, assim como as massas recheadas, a exemplo do ravióli de pinhão e ricota fresca. As sugestões são sazonais, caso do escondidinho de pinhão com truta defumada e da paella de cogumelos.

Também cercado de verde, o Villa Favorita (não tem site, 11/3957-0669) serve ótimas massas artesanais feitas na casa, como pappardelle e talharim. Para acompanhar, o famoso polpettone recheado é a sugestão. Produtos da região, como truta, shiitake e pinhão, abastecem a cozinha no d’O Gnomo, de onde saem receitas como o guisado de cordeiro com shiitake na manteiga flambado e purê de banana, para duas pessoas.

Na área urbana, o Drão abriga uma loja de acessórios, antiguidades, obras de arte e luminárias. No menu, há trutas, filés e risotos. O Quebra Cangalha tem uma gostosa varanda onde se provam receitas como leitão à pururuca e paleta de cordeiro com purê de maçã.

 

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Comidinhas

Além de funcionar como loja de antiguidades e empório que vende queijos e doces caseiros, a Fazenda Aracatu serve café da manhã, café da tarde e sorvetes artesanais. O Moara Café é outra opção para o café da manhã ou o café da tarde, com bolos, tortas, pães de queijo e sanduíches.

SUGESTÃO DE ROTEIRO

Um fim de semana em Cunha dá conta dos principais atrativos da cidade: os ateliês de cerâmica e os passeios em meio à natureza. Vale aproveitar a manhã de sábado para fazer uma trilha no Parque Nacional da Serra do Mar  – é preciso se programar; a maioria exige agendamento e há horário de saída, às 10h, além do acesso com 20 km de estrada de terra. Ou ainda, em dias claros, para subir a Pedra da Macela.

O almoço pode ser no La Taverne Bistrô, ali perto, com parada na Cervejaria Wolkenburg. Se der tempo, antes do pôr do sol, a última parada será no O Lavandário (também dá para visitá-lo no domingo). Muitas pousadas servem jantar para os hóspedes (informe-se na sua, principalmente se estiver distante do Centro e quiser consumir álcool). 

Domingo é dia de visitar os ateliês de cerâmica que fizeram a fama da cidade – tente ir a ao menos a um que usa o noborigama, técnica pioneira entre os ceramistas da cidade (é possível ver o forno nos ateliês Mieko e Mário, Alberto Cidraes, Suenaga e Jardineiro e Oficina de Cerâmica, de Leí Galvão e Augusto Campos. Depois ou entre as compras, uma boa sugestão para o almoço é o italiano Villa Favorita

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