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Natal, Pipa, Galinhos, São Miguel do Gostoso e muito mais

Dunas, falésias, lagoas, praias, kitesurfe, aerobunda, megacajueiro, resorts, golfInhos... veja 11 ótimos motivos para ir ao Rio Grande do Norte

Por Fernando Leite
Atualizado em 17 nov 2020, 17h47 - Publicado em 23 nov 2017, 16h21

1. As atrações de Natal

A Ponte Newton Navarro no cenário urbano do Rio Potengi (marchello74/iStock)

Entre as capitais brasileiras, apenas Vitória é menor territorialmente que Natal. Atrações que muitos supõem natalenses, como as dunas de Genipabu, o cajueiro de Pirangi e a Praia da Pipa, estão relativamente próximas da capital potiguar, mas fora de seu perímetro. Sim, em sua viagem a Natal você passará um bom tempo fora da cidade – sem saber disso.

Mas… E Natal? Primeiro, a chance de você acordar toda manhã cercado de dunas é considerável. Ainda mais se estiver hospedado em Ponta Negra, o bairro praiano que sofreu uma radical transformação nos últimos 30 anos. Antigo reduto de pousadinhas para casais, virou um polo turístico com hotelões, prédios residenciais, bares, restaurantes e muitos visitantes. O cenário ajuda: de um lado, separando Ponta Negra da região central, o Parque das Dunas.

Do outro, o muito famoso Morro do Careca, uma duna coberta pela vegetação com um rasgo de areia no meio. Hoje, não se pode mais subir até o alto do morro, hábito que fazia a vegetação desaparecer e a “careca” aumentar. Lá embaixo, a orla de 4 km até permite um banho de mar, mas o melhor desse pedaço é mesmo a contemplação. Guarde-separa as praias ao sul de Ponta Negra.

Com 10 km de extensão, a Avenida Senador Dinarte Mariz – a popular Via Costeira – separa Ponta Negra (ao sul) da área central (ao norte) e o Parque das Dunas (paralelo à costa) do oceano. Ao longo da via está a maior concentração de resorts urbanos do país – são dez ao todo, metade de grande porte. Em frente aos hotéis, a orla é quase exclusiva dos hóspedes, apesar dos recifes próximos da areia, prejudicando os banhistas – bom saber que os resorts esbanjam opções de lazer. Ao sul, a Via Costeira termina ao encontrar o comércio, o calçadão e os hotéis de Ponta Negra.

Voltando à Via Costeira, no lado da avenida oposto ao dos hotéis (e da praia), fica o Parque das Dunas, que pode ser visitado pelo bairro Tirol, após o contorno de toda a parte norte do parque. Há três trilhas por seus bancos de areia (duas não recomendadas para crianças), que devem ser agendadas pelo e-mail parquedasdunas@rn.gov.br.

Outrora badaladas, as praias mais centrais da cidade foram eclipsadas pelo crescimento de Ponta Negra. Uma delas, porém – a Praia do Forte -, merece a visita. O próprio nome entrega a razão do passeio: ali fica o Forte dos Reis Magos, de 1598, erguido em formato de estrela sobre os recifes, na foz do Rio Potengi.

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Da história para a cultura, um dos maiores folcloristas do país, Luís da Câmara Cascudo, não só nasceu em Natal como construiu a carreira por lá. Sua casa, na Cidade Alta, agora é um instituto que exibe as obras e o acervo do autor em visitas guiadas. Perto dali, o Memorial C. Cascudo apresenta a biblioteca particular do escritor, com 10 mil volumes.

Para trazer a infalível lembrancinha, o lugar mais tradicional é o Centro de Turismo, que ocupa as celas da antiga cadeia, na área central. Famoso também pelo pôr do sol, o espaço ainda promove o Forró com Turista, às quintas-feiras, ótima oportunidade para se iniciar no ritmo. Outra opção para comprar presentinhos é o Shopping do Artesanato Popular, que tem grande variedade de artigos e fica na entrada de Ponta Negra.

2. A formosura da Baía Formosa

Baía Formosa, no Rio Grande do Norte
Baía Formosa, no Rio Grande do Norte (Divulgação/Divulgação)

Para quem, vindo do sul, entra no Rio Grande do Norte pela BR-101, não poderia receber boas-vindas mais animadoras. Porque é assim que o litoral potiguar se apresenta: um destino pacato, relativamente pouco explorado, com dunas, falésias e Mata Atlântica num canto do país em que esse tipo de vegetação praticamente inexiste.

O adjetivo “formosa” cai como uma luva na localidade, cujo prenome alude à única baía em território potiguar. O final da avenida de acesso à cidade ladeia o alto de uma falésia e não deixa dúvida sobre a característica geográfica: no recôncavo marinho que se descortina na paisagem, a baía salpicada de barcos surge cingida por dunas avermelhadas e falésias, cenário ideal para a selfie certeira.

Central, a Praia das Cacimbas vale mais pela bela vista do que pelo banho de mar, com águas por vezes revoltas e muitas pedras – no litoral da Baía Formosa, quanto mais distante do Centro for a praia, melhor. Sagi, a mais distante (e a melhor) de todas, já na divisa com a Paraíba, é uma vila de pescadores que recusou o asfalto em troca da tranquilidade. De lambuja, ainda preservou as dunas na moldura do belo cenário. As ondas fortes atraem surfistas, mas sempre há um trecho mais manso para quem viaja com os pimpolhos. Alguns bares garantem a infra, entre eles o Ombak, famoso pelas cachaças artesanais.

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(Ana Claudia Crispim/Arquivo pessoal)

Antes mesmo de entornar uma marvada, porém, vá sabendo que chegar ao bar de carro próprio exige certo esforço, já que 18 km dos 25 km a partir da Baía Formosa são em estrada de terra ziguezagueando um canavial. Por isso, quase todos que vão para o Sagi optam por um passeio do bugue que acaba matando dois coelhos com uma cajadada só.

O veículo percorre a orla pela areia, passando pela deserta Praia da Cotia, próxima da Reserva Mata Estrela – o propalado trecho de Mata Atlântica da região. Somente bugues e visitantes não motorizados conseguem entrar na reserva de trilhas arenosas e sombreadas. O ápice do passeio é a Lagoa Araraquara, mais conhecida como Lagoa Coca-Cola por causa da coloração escura – resultado da decomposição das raízes das árvores com o solo rico em iodo e ferro. Parachegar até a lagoa, peça indicação de um guia nas pousadas locais e vá preparado para caminhar 8 km na ida, 8 km na volta.

3. Os corais de Maracajaú e os inusitados cartões-postais de Maxaranguape

Bem na Foto - Parrachos de Maracajaú, Maxaranguape, Rio Grande do Norte
Parrachos de Maracajaú, Maxaranguape (RN) (Eliane Maria Ferreira Praça/Wikimedia Commons)

O controverso termo “Caribe brasileiro” ecoa em nosso litoral, geralmente utilizado para enaltecer a beleza do mar: o tom azulado da água de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, os recifes com várias tonalidades de cor do litoral norte alagoano… Pois o Rio Grande do Norte também tem seu trecho Caribe nos Parrachos de Maracajaú, uma sequência de recifes distantes 7 km da costa. Paralelas à orla, as formações se prolongam por uma barreira de 13 km e podem ser vistas com a maré baixa. Aliás, só na maré baixa, como provam os barcos naufragados por lá, hoje um prato cheio para os praticantes de mergulho autônomo.

Como está a 60 km de Natal, a Praia de Maracajaú é mais uma campeã de preferência entre os passeios bate e volta provenientes da capital potiguar. Na entrada do vilarejo, a molecada já aborda os turistas sem cerimônia, vendendo os passeios de barco aos parrachos – lembrando que os tours são realizados só na maré baixa, o que não ocorre todos os dias nem nos horários mais católicos.

Mergulho nos parrachos de Maracajaú (Ana Claudia Crispim/Arquivo pessoal)

Lanchas e catamarãs zarpam da areia para um tour de duas horas, permitindo aos turistas que mergulhem nas piscinas naturais com cerca de 1,5 metro de profundidade (um pouco limitador para os pequenos). Imagine-se em pé no mar, cercado de peixinhos coloridos e com a água batendo no peito, mesmo a 7 km da praia!

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Não rolou o passeio aos parrachos por causa da maré? Pois Maracajaú, a praia, dá conta do recado, agradável – e cheia de coqueiros – que é. Nem o peixinho frito vai faltar, basta recorrer a um dos bares. Quem viaja com crianças ainda encontra um belo reforço de infra no Parque Ma-Noa, que tem restaurante e complexo aquático com toboáguas, rio com correnteza e outras diversões molhadas.

Mais ao sul, a 13 km por estrada que mescla trechos de terra e asfalto, a praia da Barra de Maxaranguape tem duas atrações bem curiosas. Uma delas, a “Árvore do Amor”, é o entrelaçamento natural de duas gameleiras que parecem estar abraçadas. A outra, localizada após uma caminhada pela areia da praia, é o Farol do Cabo de São Roque, o ponto do continente americano mais próximo da África.

O filé do RN

Quem vem de avião e está sentado à janela deve esticar bem o pescoço na hora de pousar no Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves. Não é todo dia que uma imensidão branca povoada de dunas se descortinará bem diante dos seus olhos.

O trecho de 120 km do litoral potiguar que tem Natal no centro e a Praia da Pipa e a Lagoa de Jacumã nas extremidades é pródigo em dunas e falésias avermelhadas, dois cenários naturais compreensivelmente reverenciados pelos brasileiros. Bônus: há também uma série de lagoas em que são criados camarões e diversos moluscos e outros crustáceos.

Diversão não falta nessa faixa do litoral potiguar. Na badalada Praia da Pipa, o bailado dos golfinhos é um espetáculo emocionante. Em Natal, o Morro do Careca garante o fundo perfeito para as fotos de Ponta Negra. E, do outro lado do Rio Potengi, as dunas de Genipabu e o esquibunda da Lagoa de Pitangui testam a adrenalina.

4. O charme da praia da Pipa e de Tibau do Sul

A Praia da Pipa, no Rio Grande do Norte (Gilberto_Mesquita/iStock)

Logo nos 8 km que ligam Tibau do Sul à Praia da Pipa, em cima de portentosas falésias com vista para o mar, você irá perceber que vai entrar num lugar especial. Tem gente que leva um tempão nesse trecho, gastando selfies ou se embasbacando. Pipa é do time das vilas de pescadores descobertas por surfistas nos anos 1970 e cresceu até virar o destino mais cobiçado do litoral potiguar. Elementos não faltam para a combustão perfeita: praias variadas, falésias avermelhadas, golfinhos, tartarugas marinhas e pousadas charmosas, restaurantes transados e uma night regada a forró e música eletrônica.

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Para dar um rolê pelas praias, você pode caminhar, andar de bugue, quadriciclo, barco eaté pau de arara. De fácil acesso, a Praia do Centro é movimentada, mas não a melhor – por causa da muvuca. As barracas top ficam nela, assim como os barcos para avistar golfinhos (que escoltam as embarcações e enlouquecem a turistada). Se quiser economizar, saiba que esses bichos nadam ao lado dos banhistas na vizinha Praia do Curral. A ida e a volta pra lá são na caminhada, na maré baixa. Reduto do surfe, a Praia do Amor é a mais bonita da região, e a deserta Praia das Minas abriga ninhos de tartarugas marinhas.

À noite, todo mundo se encontra na Avenida Baía dos Golfinhos. A essa hora, Pipa fica mais sussa porque a multidão do dia já se mandou. Ainda assim, o fervo – inclusive de gringos – é forte nas mesas e lojinhas da rua.

Pipa pertence a Tibau do Sul, que tem praias similares às do distrito, mas mais pacatas. Em Cacimbinhas e Madero, o carro fica no alto da falésia e você chega à areia descendo escadarias. Mais cartão-postal que isso, só a Lagoa de Guaraíras. Sentar em sua beirada para observar os barcos de pesca – a lagoa é criatório de camarões – com as dunas ao fundo é reconfortante. No fim da tarde, uma multidão aporta na creperia do Hotel Marinas para curtir talvez o mais belo pôr do sol potiguar.

Cuidado: terra em transe

O desabamento de uma falésia na Baía dos Golfinhos em 17 de novembro de 2020 serve de alerta para quem visita Pipa e região. Na ocasião, um casal e o filho pequeno morreram depois de terem sido soterrados. As falésias são o resultado de processos de erosão causados por chuva, ventos e pela arrebentação do mar. Evite caminhar na parte alta, junto à borda, e também permanecer próximo dos paredões quando estiver na areia.

5. As praias da rota do sol

Praia do Cotovelo, Natal, Rio Grande do Norte
Praia do Cotovelo (Creative Commons/Wikimedia Commons)

Um roteiro clássico pra quem visita Natal é conhecer o seu litoral sul, embora toda a sequência de praias não pertença ao município. Chamada de Rota do Sol, a avenida/estrada de 35 km para o sul parte de Ponta Negra. Pium é a primeira praia, mas tem acesso fechado pelas Forças Armadas por ser sede do Centro de Lançamentos Barreira do Inferno, que enviava foguetes ao espaço. Boa notícia: o local recebe visitas previamente agendadas (tel. 84/3216-1400) e, além de mostrar o centro militar, inclui um tour à base local do Projeto Tamar.

Com generosa faixa de areia fofa, mar muitas vezes calmo e boas barracas, a Praia do Cotovelo pode ser considerada um porto seguro paraquem viaja com crianças – e um deleite visual de falésias, dunas e coqueiros para os pais.

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Em Pirangi do Norte, a praia é bem menos importante que seu cajueiro, a maior árvore frutífera do mundo, segundo o Guinness Book, já superando o tamanho de um campo de futebol e invadindo ruas e casas próximas. Espere por uma atração mais curiosa que bela e, para observar melhor seu tamanho, suba no mirante. Vá também preparado para enfrentar flanelinhas e vendedores ambulantes.

Esplendoroso cajueiro, o maioral (undefined undefined/iStock)

Em frente ao cajueiro parte um passeio de barco às piscinas naturais a 800 metros da costa, ótimas para crianças, e que ainda passa pelas praias de Pirangi do Sul e Búzios. Nesta última, a extensa orla com restaurantes é um convite para estender o passeio, inclusive dentro d¿água, mas o mar é famoso pelos redemoinhos. Para saciar a vontade de se refrescar, siga para o canto esquerdo, chamado de Pirambúzios, com mar mais calmo e piscinas naturais.

Mais ao sul, Barra de Tabatinga é protegida por falésias e tem um mirante de onde se observa o bailado dos golfinhos na maré cheia. Quem pega a maré seca, porém, se beneficia do mar rasinho e pode caminhar até a afastada faixa de corais.

Sem turistas, Barreta é uma praia praticamente deserta, relegada aos locais quase como um secret. O mar tem trechos pouco amistosos, mas a imensidão de dunas ao fundo aquieta o coração de qualquer ser humano.

6. Um dia de aventura em Genipabu, Pitangui e Jacumã

Dunas em Genipabu (undefined undefined/iStock)

“Com ou sem emoção?” No alto da duna, a pergunta do bugueiro define como será o seu batimento cardíaco nos próximos minutos. Se a resposta for negativa, o passeio rola sem percalços, na crista das dunas. Mas se você erguer o polegar… O sobe e desce nas areias com manobras arriscadas na velocidade máxima permitida faz o coração sair pela boca. Por essas e outras, o Parque das Dunas Móveis de Genipabu é, há décadas, um hit potiguar.

Genipabu pertence a Extremoz, e não a Natal (como muita gente pensa), da qual se separa pelo Rio Potengi e pelas dunas. Ao desembarcar em sua bela praia, procure a associação de bugueiros e encare o divertido passeio. Além das manobras, há um momento de contemplação das dunas, com o mar e os prédios de Natal ao fundo. Dromedários deixam o dia com mais cara de Saara, num passeio em que os turistas – deturbante árabe e tudo – se acomodam ao lado da corcova do animal, e não sobre ela.

A bela Praia de Genipabu, para quem pensa que o lugar só tem passeios de bugue (Gilberto_Mesquita/iStock)

Siga – de preferência de bugue – ao outro lado do Rio Ceará-Mirim, travessia feita em balsas individuais de madeira puxadas a remo. Ao chegar à Praia de Graçandu, vá direto para a Lagoa de Pitangui, de banho relaxante. Se desejar, alugue um caiaque ou pedalinho ou, ainda, lagarteie num quiosque à beira da lagoa.

O segundo momento Saara do dia fica na estrada entre Pitangui e Jacumã. O estreito asfalto corta uma imensidão de dunas (não raro, invasoras da pista), cenário que já se passou por deserto na novela O Clone, em 2001/2002.

Na Lagoa de Jacumã, a adrenalina atende pelos nomes de “aerobunda”, “esquibunda” e “kamikaze”. De cima das areias, os mais intrépidos encaram uma descida até aterrissarem com o traseiro na água. No aerobunda, é com uma tirolesa. No esquibunda, o praticante desliza sentado em uma prancha de madeira. E, no kamikaze, os turistas descem de peixinho em uma prancha de bodyboarding, escorregando a mil sobre uma lona molhada.

7. Os bons ventos de Touros e São Miguel do Gostoso

Barcos na Praia de Pititinga (KamilloK/iStock)

Exatamente onde o mapa do país faz a primeira guinada para o sul está o município de Touros, não por acaso conhecido como “esquina do Brasil” ou “cotovelo do Brasil”. Referência geográfica, o destino revela grandes e inusitados atrativos. A começar pelo ponto em que o litoral faz a curva. Ali fica o maior farol brasileiro e um dos mais altos do mundo em atividade, o Farol do Calcanhar, erguido em 1912, com 62 metros. Nas tardes dominicais, quando é aberto ao público, os visitantes com fôlego podem encarar seus 298 degraus. Ao lado do farol localiza-se o marco zero da BR-101, a maior estrada brasileira, com 4 772 km ao longo de 12 estados.

A praia central de Touros é repleta de restaurantes, mas o mar meio revolto afugenta banhistas mais cautelosos, que preferem apenas observar as manobras dos surfistas e kitesurfistas – por aqui, onde o “vento faz a curva”, começa uma sequência de praias adoradas pela galera do kite.

Quem prefere sombra, água fresca e um mar calminho encontra essa trinca na quase deserta Praia de Perobas, a 10 km. Assim como Maracajaú, o grande barato por lá é pegar um barco para mergulhar nas piscinas naturais a 6 km da costa. Mais ao sul, Pititinga alterna mar calmo e bravio. Na maré baixa, avista-se o casco de um navio naufragado.

Em Tourinhos, as dunas petrificadas (Holovaty/iStock)

Vizinha a Touros, São Miguel do Gostoso foi São Miguel de Touros até meados dos anos 90. Mas vamos admitir que a atual denominação descreve bem o astral do local – muito gostoso. Os ares de vila de pescadores não se descaracterizaram com o crescimento de turistas, fenômeno atribuído ao perfil dos visitantes: como Gostoso tem um dos melhores ventos do mundo para o kitesurfe – o reduto do esporte é a Praia da Ponta do Santo Cristo -, acabou atraindo praticantes do globo todo e, assim, um certo cosmopolitismo. Há até quem finque raízes e monte pousadas e restaurantes por lá.

Embora desejadas, as praias de São Miguel parecem desertas, mesmo as centrais, por causa do espaço de areia generoso e livre de quiosques – para manter a vibe, não há comércio à beira-mar. Só tome cuidado com os bugues na areia. A cor mais turva do oceano assusta um pouco, mas o banho é garantido. No meio da tarde, contrate um passeio de bugue paraver o pôr do sol nas dunas petrificadas de Tourinhos. Em resumo, é um espetáculo!

8. O isolamento de Galos e Galinhos

Farol de Galinhos, no Rio Grande do Norte (Ruy Carvalho/Wikimedia Commons)

Um lugar em que o meio de transporte mais utilizado é o táxi-jegue tem que ser muito inóspito, concordam? Isolada do resto do planeta por um montão de dunas móveis, Galinhos só é acessível pela areia a veículos 4×4 – e só quando a maré está baixa. Por isso, a alternativa mais usada é estacionar o carro no Porto Pratagil e, de barco, fazer a travessia de um braço de mar por dez minutos.

Galinhos ocupa uma península que se transforma em ilha durante a maré cheia. Seu cenário é bem diversificado. Tem dunas, pequenas falésias, manguezal, salinas, mar e as charretes puxadas por jegues a levar as pessoas pra lá e pra cá. Durante o dia, recebe muita gente de Natal ou São Miguel do Gostoso para passar o dia, mas há espaço de sobra na praia.

No mar, a água morninha e mansa é tentadora, mas sua alta salinidade dificulta o mergulho e deixa uma fina camada de sal na pele. Do lado direito da praia, uma caminhada – ou jegueada – conduz a Galos, que, apesar do nome, é menor que Galinhos. Ali, suba na Duna do André para curtir o visual do mar e do mangue, sobretudo no pôr do sol, com o calor mais ameno. Do lado oposto, o Farol de Galinhos parece clamar, solitário, que você se aproxime.

Se te oferecerem um passeio de barco, aceite sem hesitar. Afinal, em que outro território brasileiro você fará um tour com mangues, dunas e salinas no cenário? Mais: com direito a almoçar ostras e caranguejos catados frescos ali no manguezal?

À medida que a tarde cai, a moçada que veio passar o dia pica a mula e a praia fica restrita aos moradores e poucos turistas que pernoitarão por lá. Todas as pousadas têm restaurante para quem resolveu ficar em Galinhos e, tão importante quanto o rango, água mineral, colocada nas caixas-d¿água em substituição à água salobra. Banho salgado, só de mar.

9. Toca para o interior

Sítio arqueológico no Lajedo Soledade, conjunto de rochas calcárias formadas quando o mar cobria a região
Sítio arqueológico no Lajedo Soledade, conjunto de rochas calcárias formadas quando o mar cobria a região (Luis Morais/Wikimedia Commons)

Ao montar um roteiro de férias pelo RN, apostamos todas as fichas em seu deslumbrante litoral. O interior do estado, porém, guarda boas surpresas. O atrativo mais valioso é o Lajedo de Soledade, um labirinto de rochas calcárias a 85 km de Mossoró, a segunda maior cidade potiguar. Paraentender o que virá pela frente, passe antes no Museu do Lajedo, em Apodi. Lá, você verá fósseis e utensílios e contratará um guia para decifrar o lajedo, que, em meio às rochas, revela inscrições rupestres com até 5 mil anos.

Vai um friozinho, aí? Pois, na serrana Portalegre, a temperatura média é de 23ºC, número que cai no inverno a ponto de atrair os natalenses por 377 km para comer uma fondue na companhia de um vinho. É nessa época que, com as chuvas, se formam as duas grandes cachoeiras da região: a do Talhado, com 100 metros, e a do Pinga, com 96. No restante do ano, o programa local é andar 3 km até as Torres de Portalegre, duas rochas com bonita vista da serra. Sem esforço nenhum – chega-se de carro pelo asfalto -, o Mirante Boa Vista, um pouco menos abrangente, alegra os sedentários.

Detalhes das pinturas rupestres – as mais antigas datam de 5 mil anos (Allan Patrick/Flickr)

O Seridó é uma região do sertão entre a Paraíba e o Rio Grande do Nortefamosa pela carne de sol que produz. Sua principal cidade, Caicó, caprichou na praça central, onde divisamos a simpática Matriz de Santana e um Arco do Triunfo ladeado de palmeiras imperiais.

Não espere, claro, por uma réplica da obra parisiense, longe disso. Com 16 metros de altura, o arco de Caicó serve como altar para uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, que encima o monumento.

Até 2010, o turismo religioso não era uma força do RN. Não que hoje atraia uma multidão, mas a construção da estátua de Santa Rita de Cássia fez os olhos se voltarem para o agreste potiguar. A 122 kmde Natal, Santa Cruz abriga a maiorestátua católica da América Latina, que, com seus 56 metros, supera com sobras, por exemplo, o Cristo Redentor do Rio.

Também localizada no alto de um morro que domina o horizonte, a imagem pode ser vista de longe por quem chega de Natal pela BR-226. Um acesso pavimentado leva os veículos até o pedestal da imagem, onde há capela, sala de promessas, lojinha e restaurante. Um teleférico está sendo construído para ligar a estátua com a Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia.

10. A boa mesa potiguar

(Divulgação/Divulgação)

Nas cercanias de Natal existem inúmeras lagoas. Dentro delas, a produção de camarões é tal que abastece as mesas não só do estado mas de boa parte do Brasil. Devorá-los fresquinhos é um privilégio. Em Tibau do Sul, o crustáceo divide as atenções com pescados do mar e da Lagoa Guaraíras no menu de seis etapas do exclusivíssimo Camamo. Ali, só dois casais são aceitos por noite para um jantar à luz de velas (reservas: 84/98813-1511).

Numa pegada gourmet parecida, mas sem tantas restrições, o Cruzeiro do Pescador, em Pipa, alia a localização no alto do vilarejo com décor despojado e cardápio de pescados fresquinhos. Faz muito sucesso por lá o churrasco de frutos do mar.

Sucesso das redes sociais, o Camarões Potiguar, em Natal, vive lotado. Claro que o ambiente rústico-chique com vidros, madeira, iluminação bacana e vista para a Praia de Ponta Negra contam, mas de nada valeriam se os pratos não fossem bem executados.

Tem tanta receita de camarão que o cardápio poderia ser recitado pelo Bubba de Forrest Gump. Há uma outra casa da rede na avenida principal de Ponta Negra, mas sem tanto charme, e duas filiais com menu mais enxuto nos shoppings Midway e Natal. Dessa mesma especialidade, o NAU Frutos do Mar seduz pelo serviço afiado, a exuberância do salão envidraçado e o cardápio de pescados frescos.

Iguaria do Camano, em Tibau do Sul (Divulgação/Divulgação)

Fora do eixão turístico de Natal, o Mangai, em Lagoa Nova, é um self-service de comida nordestina, com 130 receitas, verdadeira aula de culinária sertaneja, com pratos pouco divulgados ao sul da Bahia, como o sovaco de cobra (carne-seca desfiada com milho).

Ao visitar o cajueiro de Pirangi e as praias ao sul de Ponta Negra, almoce no Paçoca de Pilão, aberto pela chef Adalva Rodrigues há 27 anos. Peça o que for, desde que esteja acompanhado pela paçoca da casa.

A Avenida dos Recifes é um point quase solitário da noite de São Miguel do Gostoso. Entre os restaurantes, chama a atenção o Tuk Tuk, que, apesar do nome e da influência oriental nas receitas, não faz cozinha indiana nem tailandesa. Decorado com objetos das andanças do proprietário pelo mundo, é boa pedida para casais. Em Galinhos, onde as (poucas) pousadas têm restaurante, vale sair uma vez para provar as moquecas de Lourimar Neto, o Loro, no Galinhos Frutos do Mar Slow Food.

11. A boa cama potiguar

O poderoso Serhs Natal, com complexo de piscinas e outras conveniências (Divulgação/Divulgação)

Nenhuma capital brasileira tem tantos resorts urbanos como Natal. O endereço deles é a Via Costeira, uma avenida de 10 km que liga Ponta Negra às praias centrais. Os bambambãs são vizinhos e próximos de Ponta Negra: o Serhs Natal Grande Hotel e o Ocean Palace Beach Resort & Bungalows. Em comum, ambos têm um complexo de piscinas (que suprem o mar cheio de pedras), kids club e um bom número de bares e restaurantes.

Na principal avenida de Ponta Negra, a 200 metros da praia, todas as unidades do Best Western Premier Majestic Ponta Negra Beach proporcionam alguma vista para o mar, mesmo que lateral. De quebra, o cardápio do restaurante leva a assinatura de Erick Jacquin.

Debruçado sobre a Praia do Amor, em Pipa, o Sombra e Água Fresca começou pequeno e hoje é um complexo com hotel, pequeno resort e spa (este último aberto ao público). A vista é de cair o queixo de qualquer mortal. Mais introspectivo e imerso na mata, o Hotel Toca da Coruja remete a uma hospedagem de selva, embora esteja na avenida principal de Pipa e a poucos passos do centrinho e da praia. Luxo da simplicidade, seus amplos quartos mais afastados têm banheira ao ar livre. Importante dizer, menores de 10 anos não são bem-vindos por lá.

(Divulgação/Divulgação)

Premiada por suas ações sustentáveis, a Pousada Sagi It, na isolada Praia do Sagi, na Baía Formosa, faz a vida do hóspede bem mais feliz. Seja pela preocupação com os detalhes e o papo agradável do proprietário Jares Ponciano, seja pela exclusividade – são só cinco unidades – e pela possibilidade de saborear um jantar a dois montado numa tenda na areia da praia.

Dentre as pousadas de São Miguel do Gostoso, a Casa de Taipa é uma das mais distantes da praia – a alguns metros, na verdade. Não espere por luxo, mas por acolhimento. Toda a decoração foi feita pelos proprietários, que são artistas plásticos. No jardim, uma casa de taipa é um museu com peças dos moradores da região.

De um lado, a praia, do outro – e mais próximo ainda – um braço de mar. Para onde você olhar na Pousada Peixe Galo, o visual será incrível. De quebra, a pousada localizada na Praia de Galos, vizinha a Galinhos, tem uma piscina convidativa para você variar e aproveitar um banho de água doce.

Publicado na edição 265 da Revista Viagem e Turismo

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