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48 Horas em Kuala Lumpur, Malásia

Na encruzilhada entre Oceania e Ásia, Kuala Lumpur oferece uma sociedade que traz referências culturais hindus, chinesas, malaias e islâmicas

Por Felipe Zmoginski
Atualizado em 24 jan 2019, 19h03 - Publicado em 4 jun 2012, 18h08

Quem viaja para as regiões mais badaladas do Oriente, como Japão, Tailândia ou Austrália, pode incluir em seu roteiro um econômico, rápido e surpreendente destino às suas férias, a cidade de Kuala Lumpur, na Malásia. Graças ao posicionamento estratégico desta capital (a meio caminho entre Oceania e China) e ao ótimo aeroporto construído por lá, a cidade tornou-se hub de voos baratíssimos da Air Asia e Singapore Airlines.

A partir do aeroporto KLIA, na capital malaia, há várias formas rápidas, baratas e confortáveis de superar os 58 quilômetros que separam o centro da cidade do hub aéreo. Tomar um taxi é seguro e não muito caro. Aliás, pouca coisa na Malásia é realmente cara, uma vez que o ringgit, a moeda local, é bastante desvalorizada em relação ao real, dólar ou euro. Tomar o bonde elevado KL Train é a forma mais interessante de obter as primeiras impressões da jovem cidade, fundada no final do século 19, por hordas de imigrantes indianos, chineses e indonésios.

Do alto, vislumbram-se as encostas verdes de uma metrópole erguida em meio à mata tropical e uma paisagem que lembra a das grandes cidades brasileiras: pobreza nas periferias e arranha-céus e desenvolvimento nos bairros centrais. Uma significativa diferença, no entanto, separa nossas cidades de Kuala: a incrível disseminação de mesquitas. Grandes ou pequenas, suntuosas ou modestamente erguidas com cimento batido, elas estão em todos os bairros, em todos os bairros importantes.

Liderado pelo rei Abdul Halim Sha, um homem de 84 anos cuja foto estampa todas as notas de ringgit, o país é oficialmente uma nação muçulmana, regido por um sistema político em que não só o poder central é hereditário (no caso, a família Halim Sha), mas também cada província (ou sultanato, como preferem os malaios). É como se o governador Geraldo Alckmin, em São Paulo, ou Sérgio Cabral, no Rio, tivessem direito monárquico de governar seus Estados e, ao morrer, os transmitissem para seus filhos.

Entre as múltiplas opções de hospedagem, turistas e expatriados se dividem entre o Centro – onde ficam as torres Petronas e o estrelado hotel Mandarim Oriental (hospedagem preferida dos pilotos de Fórmula 1 que disputam o GP da Malásia) – e o boêmio bairro de Butik Bintang. A segunda opção, além de mais econômica (oferece hotéis de três ou, no máximo, quatro estrelas), deixa o turista numa região fervilhante para curtir bares, restaurantes e shoppings a pé, a poucos minutos de caminhada de seu hotel.

Mesquita Nacional de Kuala Lumpur, Malásia
Em meio a referências hindus e tradições chinesas, a Malásia é um estado muçulmano, onde mesquitas são parte constante da paisagem. Aqui, a Mesquita Nacional, em Kuala Lumpur Crédito: divulgação  ()

Primeiro dia

Se você atendeu nossa recomendação e hospedou-se em Butik Bintang (uma boa sugestão é ficar no Furama Hotel), tome um táxi na primeira hora da manhã e desloque-se para o centro da cidade, onde fica o cartão-postal mais famoso do país, as Petronas Towers. Não se preocupe com o endereço, qualquer taxista vai entender a expressão “Petronas Tower”. Na verdade, eles são capazes de entender muito mais e quase sempre puxam papo com o turista. Como a Malásia foi colônia inglesa por quase cem anos, o inglês é um dos idiomas estrangeiros mais disseminados no país, o que facilita a comunicação com garçons, taxistas, vendedores e quem mais você conhecer na sua jornada.

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O acesso às torres funciona o dia todo das 9h às 21h, menos de sábado, que não funciona de 13h às 14h30, e fecha às segundas-feiras. Os tickets devem ser comprados com antecedência no site oficial. Com 452 metros de altura, elas formavam o prédio mais alto do mundo em 1998, quando foram inauguradas pela petrolífera Petronas, que pagou o custo do empreendimento. Em 2007, foram superadas pela Taipei 101, em Taiwan, com seus 508 metros. Hoje, as Petronas são “apenas” o sétimo maior prédio do planeta. Mesmo assim, os malaios saberão lembrar você que “as torres gêmeas formam a dupla de prédios mais alta do mundo”.

Lá no alto, uma metrópole cercada por água barrenta, densas matas tropicais e um oceano de pequenos e médios prédios aparece sob os olhos do visitante. A água turva que cerca a capital, aliás, é responsável pelo nome da cidade. No idioma dos nativos malaios (eles são uma minoria no país dominado pelos imigrantes de Índia, China e Indonésia), Kuala Lumpur que dizer “água barrenta”.

Para comer, beber ou mesmo fotografar as Petronas, espere descer de seu cume. Aos pés das gigantes siamesas um extenso parque com lagos artificiais, chafariz e área para picnic se oferecem para uma caminhada e ótimas fotos. Há alguns pontos do parque, aliás, em que pequenas placas avisam os turistas “nice place for a picture” – bom local para foto. São pontos em que se pode enquadrar mais facilmente as torres em meio à paisagem verde local.

Os edifícios são uma atração não só para estrangeiros, mas para malaios do interior do país ou, nos finais de semana, para os próprios moradores da cidade. Aí está um prazer adicional de visitar esse parque, onde é possível ver as mães cuidando seus filhos, os homens jogando bola ou tomando sol no gramado e os adolescentes ouvindo música. O fato de essa ser uma nação muçulmana pode chocar o visitante desavisado. Parece particularmente cruel ver as mulheres cobertas dos pés à cabeça, com burcas, lenços e jahibs sob o calor impiedoso do sul da Ásia, enquanto garotos e homens se refestelam nos lagos de chinelos, calção e regata. Isso não quer dizer que, se você for mulher, precisará se vestir assim, como acontece com as turistas na Arábia Saudita ou Irã. Europeias e asiáticas não islâmicas circulam pelo país com roupas comuns, apenas com o cuidado de não parecerem ousadas demais, evitando shortinhos ou decotes.

A Malásia vive uma interessante convivência entre as tradições islâmicas e o uso de modernas tecnologias Crédito: Felipe Zmoginski ()

Hora do almoço

Após explorar o parque das Petronas, uma ótima pedida é ingressar no Suria, maior shopping do país que fica exatamente ao lado das torres. O gigantesco complexo é conhecido pela variedade de tecidos e joias, de ótima qualidade e baixo preço. No último andar do Suria, dezenas de restaurantes (alguns estrelados) reúnem excepcionais opções para almoçar.

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Como Kuala Lumpur é uma cidade de imigrantes (e expatriados, quase todos a serviço da indústria do petróleo) disseminou-se no país uma mistura de cozinhas do mundo todo, em particular as de tempero indiano e chinês. Uma das (boas) opções de cozinha malaia é o Thai Tong, localizado nos jardins externos da cobertura do Suria, que serve sopas de ervas (uma tradição no país) e pratos como o pato apimentado com coco, uma espécie de prato-nacional. Apesar do luxo do restaurante, não se assuste. A menos que você peça um vinho importado (prefira chá quente, como fazem os locais), a refeição não custará mais que 50 reais por pessoa.

Tardinha no Thean Hou Temple

A partir do centro, tome um táxi para o Thean Hou Temple (65 Pesiaran Endah 50460), um delicado parque erguido pela numerosa comunidade chinesa numa colina ao sul da cidade. Como o próprio nome diz, o parque é um local religioso de origem budista, com três altares a céu aberto espalhados entre alamedas cuidadosamente floridas. No mais famoso altar, uma imagem de quase sete metros da divindade Thean Hou exorta os visitantes à oração num cenário tão silencioso que mal parece que estamos numa cidade grande.

A principal razão para ir neste parque à tarde é poder ver o pôr do sol a partir da colina em que ele foi construído. Quando a tardinha cai, a temperatura também fica mais amena e convida o visitante a beber chá no Jardim Medicinal Chinês, enquanto o sol pinta o horizonte de tons de amarelo.  Nas casas de chá deste jardim, são oferecidas ervas para todo tipo de mal, incluindo para baixar o colesterol, aumentar a potência sexual e até curar uma simples dor nas costas.

Balada em Butik Bintang

Aproveite o fato de estar hospedado num bairro de agitada vida noturna para descansar antes do jantar. Na Bintang Walk, a principal avenida do bairro, uma dezena de casas de massagem convida ao relaxamento pré-balada. Em Kuala, a massagem é uma instituição e pode-se contratá-la em pacotes de serviços, para quem estiver precisando também cortar os cabelos, ir à manicure, pedicure, fazer escova ou limpeza de pele. Para quem está numa longa viagem pela Ásia, estes serviços a preços baixos (você não vai gastar mais de R$ 60 para cuidar da pele, unhas e cabelos) podem ser um presentinho delicioso.

Algumas casas oferecem ainda serviços de sauna e uma estanha massagem feita por peixes! Nesta peculiar modalidade, o cliente entra de corpo inteiro num aquário com peixes vivos – e famintos. Eles passam a morder sua pele e se concentram em áreas como o espaço entre os dedos dos pés, joelhos, mãos e axilas. Segundo os locais, os peixes removem as células mortas com seus delicados lábios e estimulam a circulação do sangue com suas “mordidinhas”.

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Peixes, Kuala Lumpur, Malásia
Peixinhos fazem limpeza nos pés de nosso repórter. Aparentemente estão intoxicados até hoje Crédito: Felipe Zmoginski ()

Na mesma avenida, bares com música ao vivo e restaurantes descolados são uma excelente opção para o jantar. Como a região de Bintang é habitada por uma maioria hindu, a cozinha mais popular por ali é a indiana, com deliciosas ofertas de carneiro ao curry e pão lavosh (cozidos em fornos de barro cavados no chão), regados a chá com leite. Fãs de vinho, vodca ou cerveja vão encontrar alguma dificuldade para consumir álcool. Uma exceção para os fãs de uma cervejinha é o Finnegan’s Irish Pub (6 Jalan Telawi 5). Curta sua noite, mas mantenha na lembrança que, apesar da miscigenação de culturas, a essência desse país é islâmica.

Segundo dia

Acorde cedo em seu segundo dia (lembre-se que você só tem 48 horas em Kuala Lumpur) e tome um táxi para Batu Caves (bairro de Gombak), uma das atrações mais disputadas do país. O Batu é uma mistura de templo religioso e reserva natural construído em meio a uma formação geológica muito peculiar, um conjunto de mais de 200 cavernas talhadas pelas chuvas e ventos ao longo de 400 milhões de anos.

O complexo é uma espécie de zoológico, igreja e museu a céu aberto de história da antiguidade. Afinal, naquela região tribos dos povos Temuan (eles são a origem étnica do povo malaio) criaram os primeiros núcleos habitacionais da Malásia antiga. Logo na entrada do complexo você verá uma imagem gigantesca de 43 metros de altura da deusa hindu Murugan. É a maior estátua desta divindade em todo o mundo e, em torno dela, milhares de peregrinos devotos se reúnem para orar.

Batu Caves, Kuala Lumpur, Malásia
Estátua da divindade Murugan nas grutas Batu Crédito: Wikimedia Commons  ()

Vencida a estátua, será preciso encarar uma extensa escadaria para explorar as três atrações do parque: as grutas Cathedral Cave, Art Gallery Cave e  Museum Cave. Na primeira caverna, como o próprio nome diz, há uma catedral dedicada a divindades hindus, já na segunda há um espaço com obras de arte moderna e, na terceira, relíquias que contam a história do povo Temuan.

No entorno das cavernas, espécies nativas de macacos e aves tropicais vivem em relativa liberdade, vez por outra furtando frutas e lanches de turistas desavisados.  Se levar comida, mantenha-as dentro da mochila. Fechada. Fãs de esportes radicais podem alugar equipamentos para escalar as cavernas. Há mais de 160 rotas escaláveis com níveis de dificuldade que vão do “iniciante” até “ultraman”.

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Na saída do parque, a avenida comercial que margeia Batu Caves oferece boas opções para quem deseja escapar da dieta asiática. Lanchonetes como Starbucks, Subway e cantinas italianas permitem fugir, ao menos por uma refeição, do molho curry e do tempero agridoce da comida local.

Na tarde de seu segundo (e último) dia em KL, tome um táxi até o Museu de Arte Islâmica (Jalan Lembah Perdana, 50480), uma atração definida como “must see” pelos guias internacionais que resenham a Malásia. Maior museu do tipo fora do mundo árabe, o complexo de 30 mil metros quadrados reúne uma pequena mesquita e vários prédios de arquitetura mourisca em pleno sudeste asiático.

O museu (fecha às segundas) fica aberto até às 18 horas (últimas admissões às 17h) e requer ao menos uns 90 minutos para ser explorado. Além dos sete mil artefatos históricos e da coleção de joias sagradas, uma visita a esta atração permite mergulhar, ainda que por poucas horas, num universo de devoção totalmente diferente do que estamos acostumados a ver no Brasil.

Jantar de despedida

Se você marcou seu voo para deixar Kuala Lumpur na manhã do dia seguinte, aproveite até seu último minuto na capital malaia com um jantar no Traders Hotel (City Centre, 50088). Este hotel mantém em seu terraço quatro restaurantes e dois bares que dão visão para as Petronas Towers. O mais bonito deles, o SkyBar, serve comida indiana e mediterrânea na lateral de uma piscina coberta, no terraço do prédio.

SkyBar, Kuala Lumpur, Malásia
O SkyBar oferece ótimas vistas das Torres Petronas Crédito: divulgação  ()

Mesmo que você já tenha visitado as torres Petronas antes, vê-las à noite, toda iluminada, é um espetáculo particularmente encantador. O jantar ali, obviamente, não é dos mais baratos. Um risoto com vinho ou acompanhado de um mojito custará um pouco mais que 100 reais por pessoa.  O prazer de encerrar seu tour de dois dias num dos restaurantes mais fantásticos do país, no entanto, pode valer cada centavo gasto.

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