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Copa bacana

Cores, cenas, atrações, histórias, lugares e personagens de Copacabana, a praia mais famosa do Brasil

Por Igor Olszowski
Atualizado em 18 ago 2021, 15h02 - Publicado em 29 Maio 2012, 17h25

Boêmia, glamourosa, mítica. Caetano cantou em Superbacana que tudo está em Copacabana (Ipanema e Leblon também dariam boas rimas). O Réveillon é famosíssimo em todo o planeta. A tão célebre Princesinha do Mar está de volta ao proscênio. Proscênio, pensando bem, é uma palavra que ficaria melhor numa reportagem sobre o bairro nos anos 1920, quando, por exemplo, o hotel Copacabana Palace foi inaugurado. Copacabana, na verdade, é notícia há 90 anos, mas de tempos em tempos reclama um pouco mais de atenção. Como agora, quando passa a exibir um feixe de novos restaurantes e boulangeries, em parte por não ter os aluguéis da hora da morte dos vizinhos da Zona Sul. Com seu panorama de pés-sujos e salões elegantes, sungas brancas, viúvas octogenárias e skatistas, o bairro em que vivem cerca de 150 mil pessoas é a síntese democrática do Rio, talvez a síntese do Brasil.

A famosa orla de Burle Marx, o calçadão de 4 quilômetros ao longo da praia na Avenida Atlântica, é apenas o eixo mais vistoso do bairro que esconde – ou exibe – preciosidades. Do Posto 6, no Forte de Copacabana, ao Forte do Leme, alguns mundos se entrelaçam, seja na geografia humana, seja nos botecos, restaurantes, lojas e atrações que convidam a horas, dias, semanas de visita. “O bairro tem várias caras e tipos, inclusive a do malandro carioca de almanaque, aquele que tenta se dar bem com o turista”, diz o sociólogo Juliano Werneck, presidente da Associação dos Moradores e Amigos de Copacabana (Amacopa).

A grande mudança que se vê em Copa neste momento tem a ver com cozinha. Ainda dá para comer um bom PF por R$ 9 no apertado balcão do boteco Aboim (Rua Souza Lima, 16, loja B, 21/9818-2272) e se deliciar com os wafes da Confeitaria Colombo (21/3201-4049, confeitariacolombo.com.br), nas alamedas do Forte de Copacabana, um dos lugares mais gostosos do bairro. Os crepes do Le Blé Noir (Rua Xavier da Silveira, 15, loja A, 21/2287-1272; Cc: A, D, M, V) também seguem concorridos. As novidades começam nos limites do Arpoador, no edifício Cassino Atlântico. Lá estão os 30 metros quadrados do Beijo Carioca (Rua Francisco Otaviano, 20, 21/2513-1070; Cc: A, D, M, V), de Georgeana Mello. Da sua cozinha saem saladas, quiches de cebola e alho-poró (R$ 13,50) e doces como a tartelette de chocolate meio amargo com laranja (R$ 12).

Ao lado, no Hotel Sofitel (Avenida Atlântica, 4240, sofitel.com.br; diárias desde 550; Cc: A, D, M, V), a marca uspcale do grupo Accor, onde os funcionários são instruídos a falar “Bonjour” em vez de “Bom-dia” até ao mais feroz brasileiro, o restaurante Le Pré Catelan converte ingredientes brasileiros como o arroz com feijão em alta gastronomia. Um dos quatro restaurantes com as três máximas estrelas do GUIA BRASIL 2012, é dirigido pelo chef Roland Villard, marido da Georgeana do Beijo Carioca. Villard desembarcou em Copacabana em 1997 para ficar. “Sinto-me um felizardo por acordar todo dia de frente para a praia mais linda do mundo”, disse à VT. O amor pelo bairro toma proporções quase clubísticas. “Copa é sincera, não tem os modismos de Ipanema e do Leblon.”

Veja na próxima página a forte presença francesa em Copacabana e as melhores ruas comerciais

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Bleu, blanc et rouge

A França está em alta em Copa, e não só por causa de Villard. A caótica Avenida Nossa Senhora de Copacabana, a principal artéria do bairro, por onde passam 65 linhas de ônibus, também tem novidades de sabor bleu, blanc et rouge. A Guerin Boulangerie (no 920, loja A, 21/2547-1326; Cc: M, V) serve croissants, brioches e baguetes que custam desde R$ 17 o quilo e levam a assinatura do francês Dominique Guerin, um ex-Le Pré Catelan. A apenas dois quarteirões, a Paradis (no 776, loja B, paradis.com.br; Cc: D, M, V) é outra debutante. Comandada por Pierre Cornet, serve macarons coloridos e picolés artesanais.

Com muitos prédios art déco, como o Edifício Brasil, na Rua Fernando Mendes, Copacabana ainda tem um pé no começo do século 20, quando o bairro se desenvolvia. Tempos em que Carmen Miranda destilava seu charme no Cassino Atlântico (o prédio, perto do Posto 6, seria demolido). Uma certa nostalgia desse tempo pode ser vivida dentro do Charleston Bubble Lounge (Rua Rodolfo Dantas, 26, loja B, bubblelounge.com.br; Cc: A, D, M, V). É um cabaré com garçonetes com vestidos curtos e penas na cabeça. “Os espumantes são bárbaros”, recomenda a socialite Narcisa Tamborindeguy, comentarista-mor do bairro, onde mora no Edifício Chopin, ao lado do Copacabana Palace. A carta do Charleston tem 100 rótulos de espumante – a garrafa do aclamado champanhe Krug custa R$ 800.

O sebo Baratos da Ribeiro de Copacabana, Rio de Janeiro O sebo Baratos da Ribeiro de Copacabana, Rio de Janeiro

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O sebo Baratos da Ribeiro tem 7 mil LPs – Foto: Fernando Frazão

Uma das ruas comerciais mais interessantes do bairro é a Barata Ribeiro, onde há lojas que também parecem embaralhar o tempo vivido lá dentro. A Lomography (no 369, loja B, 21/2521-8904; Cc: A, D, M, V) tem um adorável sabor vintage, com suas câmeras, lentes e exposições. Na mesma rua, a Perucas Lady (no 774, 21/2235-6676) exibe um modelo Marilyn Monroe que faz sucesso. Uma passada na Baratos da Ribeiro (no 354, loja D, baratosdaribeiro.com.br; Cc: M, V) pode fazer com que você considere usar o seu velho toca-discos. O sebo tem 7 mil LPs. Mas, para pessoas relativamente hedonistas, como este jornalista (que muito apropriadamente mora em Copacabana), é difícil caminhar por essas alturas da Barata Ribeiro e não fazer um desvio curto, de no máximo três quarteirões. Na transversal Siqueira Campos fica a venerável Adega Pérola (no 138, loja A, 21/2255-9425; Cc: A, D, M, V), cujas travessas de 50 petiscos deveriam ser tombadas como Patrimônio da Humanidade (o bar virou, a propósito, junto com outros 11 do Rio, “Patrimônio Carioca”). Para quem só conhece os “botecos cariocas” de São Paulo ou os neobotecos cariocas do próprio Rio (como a rede Belmonte), eis a chance de entender como tudo começou. A essência do pé-sujo está lá, naquelas porções formidáveis de polvo ao vinagrete ou sardinha.

Na divisa de Copa com o Leme, determinada pela Avenida Princesa Isabel, a influência culinária passa a ser italiana. Em outubro passado, o Bacaro do Lido (Rua Ronald de Carvalho, 21, loja A, 21/2295-9887; Cc: A, D, M, V) chegou à Praça do Lido com a inusitada proposta de mesclar as culinárias da Bota e do Japão. Massas frescas e carpaccios disputam a atenção com a produção do sushiman Mário Ueda, como o combo com 12 sashimis (R$ 18). A última grande boa-nova é o Alloro (Avenida Atlântica, 1020, 21/2195-7857; Cc: A, D, M, V), dentro do Hotel Windsor Atlântica, restaurante do chef-figuraça Luciano Boseggia, ex-Fasano de São Paulo, cidade em que viveu por 20 anos. Os vinhos não têm os preços afetados de tantos restaurantes, e seu tortelli de abóbora com ragu de camarão e amêndoas vale os R$ 65 pedidos.

Se as areias da Praia de Copacabana não ostentam os corpos maravilhosos do Pepê ou as celebridades do Posto 9, também guarda boas atrações. O ambulante Maluco do Açaí divulga seu produto num megafone enquanto as sardinhas fritas do Quiosque da Vanusa, perto da Pedra do Leme, fazem a cabeça de cariocas da gema e cariocas nem tanto, como o inglês Will Acker, que mora há um ano no bairro. Por todo o calçadão, um sinal oscilante de wi-fi conecta notebooks à internet.

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Copacabana não tem mais uma de suas velhas marcas registradas, a boate Help, na Atlântica, aquela onde gringos com menor poder de persuasão buscavam diversão rápida. Em seu lugar surgirá o Museu da Imagem e do Som, mais uma das obras que devem ajudar a mudar a cara do Rio em tempos de Olimpíadas. O projeto é da arquiteta polonesa Elizabeth Diller, a mesma do High Line, a via férrea suspensa que virou um grande jardim em Nova York.

O destino arquitetônico da Atlântica não é problema para a colônia de cerca de 60 pescadores que ocupa o Posto 6, que, como um ímã, chama a nossa narrativa de volta para esse canto de Copa. Todos os dias, às 9 da manhã, barquinhos regressam da lida cheios de robalos, garoupas e corvinas. Graças à colônia, o cearense José Manuel seguiu na profissão que seu pai lhe ensinou na infância em Canoa Quebrada. “Quando eu vim para o Rio, há 19 anos, meu destino mais provável era trabalhar como porteiro. A colônia me permitiu manter meu velho ofício. Por isso sou feliz.”

Copacabana pode ver surgirem a ritmo regular novos bares, cores, restaurantes, museus, gentes, mas sua essência parece jamais mudar. Essa deve ser uma das razões de seu fascínio.

Veja na página anterior a reportagem Copa Bacana completa

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