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A denúncia da guerra, por Lasar Segall, é tema de exposição em SP

75 retratos da guerra desenhados em aquarela pelo artista Lasar Segall ficam expostos até 12 de agosto no Centro da Cultura Judaica, em São Paulo

Por Elaine Patricia Cruz, da Agência Brasil
Atualizado em 16 dez 2016, 00h35 - Publicado em 28 Maio 2012, 19h16

A face da mulher expressa sofrimento. Em seus olhos tristes encontram-se refletidas imagens da guerra. Esse é um dos 75 retratos da guerra desenhados em aquarela pelo artista Lasar Segall (1891-1957) entre os anos de 1940 e 1943 que estão agora em exposição no Centro da Cultura Judaica, na zona oeste de São Paulo, até 12 de agosto. A entrada é gratuita.

Todas essas aquarelas compõem o caderno do artista denominado Visões de Guerra, que jamais foi publicado. Os desenhos da Segunda Guerra Mundial foram feitos por Segall, nascido na Lituânia, quando já estava vivendo no Brasil.

Segall fez uma dura crítica à guerra retratando-a por meio do resgate de sua vivência da 1ª Guerra Mundial e também por meio das cartas de amigos, notícias de jornais e relatos no rádio que falavam dos horrores que ocorreram nesse período.

“Segall não conheceu, ao vivo, as cores da 2ª Guerra Mundial, mas conheceu a 1ª Primeira [Guerra Mundial], quando ficou prisioneiro em Dresden [cidade da Alemanha], onde criou o grupo dos expressionistas”, contou Benjamin Seroussi, diretor de programação do Centro da Cultura Judaica. Segundo ele, Segall “tem uma memória da guerra e das perseguições pelas quais os judeus [como o próprio artista] passaram”.

As 75 aquarelas de Segall que compõem as Visões de Guerra pertencem ao acervo do Museu Lasar Segall. As aquarelas não estão numeradas, mas aponta-se que o desenho de capa mostra os anos em que as obras foram compostas (1940-1943), ao lado do desenho de uma mulher que tem seus braços suspensos e amarrados.

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“Ele decidiu se engajar nesse conflito da maneira como ele podia, que foi por meio de seu trabalho. O caderno se transformou num ponto de denúncia dessa guerra. Durante esses três anos, por causa da distância, ele acabou não retratando a guerra, mas denunciando-a como um fenômeno universal”, disse Seroussi.

Algumas imagens, conta, se referem mais ao primeiro conflito e aos pogrons, que são as perseguições de judeus na Rússia [ocorridas no fim do século 19 e início do século 20]”.

Para fechar o caderno, Segall ilustrou a imagem de duas mãos segurando uma pomba, símbolo de esperança. “Ele termina com essa ideia de paz porque ele não deixa de ser humanista, acreditando que há um caminho além da guerra”, acrescentou Seroussi.

Segundo o diretor, esse retrato da guerra de Segall pode ser também analisado no contexto atual. “Sabendo que hoje Israel está em conflito e em situação de guerra explícita ou não com seus vizinhos, o caderno toma uma dimensão ainda mais forte e simbólica – e espero que não trágica”, falou.

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Além das aquarelas, a exposição também apresenta os estudos que Lasar Segall fez para as obras e outras pinturas que dialogam com o tema da guerra. Há também um vídeo que apresenta cartas, fotos e recortes de jornais retratando o momento histórico em que Segall elaborou o caderno.

O Centro da Cultura Judaica desenvolveu um material de apoio para que a guerra seja discutida em sala de aula. O material é entregue aos professores que visitam o local com seus alunos e pretende oferecer subsídios para que a obra de Segall seja discutida nas escolas.

A professora Marlice Aparecida Silva dos Santos, levou uma turma de 6ª série para conhecer a exposição na última quinta-feira (24). “Trouxe [os alunos] por causa da importância do artista. E mais importante do que ele ser um ícone do expressionismo alemão e de ter influenciado a arte no Brasil com o modernismo é o fato de podermos proporcionar uma aula diferente”, destacou.

Os alunos que ela levou à exposição são de uma escola pública localizada na zona leste da capital. “Para eles, tudo é novidade. Até andar no elevador assusta”, disse. “Mostrar um mundo novo para eles é como rasgar um véu e dizer ‘existe alguma coisa além do que você está acostumado na sua comunidade’. Lá eles estão acostumados com coisas muito tristes”, disse ela.

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Além da exposição e do material didático, o centro também oferece uma programação paralela à exposição, articulada com o tema. Há oficinas, contações de histórias, debates, workshop de culinária e uma mostra de filmes que abordam a guerra. Também está à venda no local e no Museu Lasar Segall livro que reúne todos os 75 desenhos de Lasar Segall. Outras informações podem ser obtidas no site www.culturajudaica.org.br.

Visões de Guerra

Quando: até 12 de agosto; de terça a sábado, das 12h às 19h, domingo das 11h às 19h

Onde: Centro da Cultura Judaica – Rua Oscar Freire, 2500 (Estação Sumaré do Metrô)

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Quanto: grátis

Mais informações: (11) 3065-4333; www.culturajudaica.org.br

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