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Taj Mahal, Khajuraho e Varanasi: um tour pelos clássicos da Índia

Dicas para ver o Taj Mahal, os Templos do Kama Sutra e o rio Ganges sagradíssimo - três atrações obrigatórias para quem visita a Índia

Por Da Redação
Atualizado em 8 fev 2019, 15h22 - Publicado em 15 dez 2014, 19h08

“É a coisa mais bonita que eu já vi. Estou estupefata. É assim que se diz quando a gente perde o ar?”, disse a professora de ioga paulista Aryta Garcia, ao passar pela porta de ferro que traz a primeira vista dele, do todo-poderoso… “Taj Mahaaal, Taj Mahaaal!”

O monumento mais famoso da Índia é visitado por 99,9% dos viajantes que vão a turismo, por motivos bem justos. A fala de Aryta me lembrou a cena do filme Quem Quer Ser um Milionário? (2008), de Danny Boyle, quando o protagonista Jamal e seu amigo Salim, ainda pequenos, são cuspidos para fora do trem e acordam na cidade de Agra, bem de frente para o Taj. “Isso é o paraíso?”, perguntam-se.

Por muito tempo pensei que cair de cara para o mausoléu seria uma licença cinematográfica, mas, uma vez em Agra, tudo faz sentido. Opulento, no alto de uma colina, ele é visto de vários pontos da cidade. Depois, na sequência da cena, a dupla resolve ficar por lá fazendo bicos como guias e sai contando mil cascatas para os visitantes. Nada mais real: dá-lhe guias que explicam tudo errado. Pra não cair nessa, siga o nosso tour guiado.

A verdadeira história do Taj Mahal

A história real é a da música do Jorge Ben – o mausoléu de mármore branco foi erguido pelo imperador Shah Jahan em homenagem à sua mulher preferida, Muntaz Mahal, que morreu ao dar à luz o 14º filho do casal, em 1630.

Para abrigar o corpo, ele foi à luta para construir um palácio estonteante. Mandou comprar pedras preciosas para incrustar nas paredes, contratou 20 mil operários. O Taj Mahal levou 16 anos para ser finalizado (entre 1632 e 1648). O resultado? Uma obra de arte, uma simetria perfeita, uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, a única razão a atrair 3 milhões de turistas por ano até a sem graça cidade de Agra, a 210 quilômetros de Délhi. Hoje o casal jaz junto, em uma cripta sob a cúpula branca.

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Visite o Taj ao amanhecer, quando ele é tingido de rosa e há menos turistas. Cuidado com a sexta, o único dia em que fecha. Deite na grama, vá lá dentro ver as inscrições do Alcorão nas paredes e tenha paciência para tirar a foto perfeita. Todas as minhas tentativas saíram com papagaios de pirata, mas não faltam fotógrafos semiprofissionais que conseguem excluir a multidão dos fundos e ainda te entregam na saída um book com dez fotos impressas por US$ 15.

A cidade tem também o imperdível Forte de Agra, um complexo de construções palacianas com mil salões e pátios. Há ainda um grande tanque de mármore que, reza a lenda, era cheio com milhares de pétalas de rosas para o banho perfumado da imperatriz.

A experiência é completa com pernoite no Oberoi Amarvilas, um hotel dos deuses a 600 metros do Taj, que premia os hóspedes com uma vista do monumento de todas as janelas, em todos os quartos. Coisa de filme.

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Sexo nas paredes — os Templos do Kama Sutra em Khajuraho

São sete horas de trem de Agra a Khajuraho, cidade isolada na Índia Central e com apenas 8 mil habitantes. Mas foi a localização remota que ajudou a salvar seu maior patrimônio, o conjunto de templos “eróticos” do século 10 – obra de seguidores do tantrismo, religião que acreditava no erotismo como caminho para o divino.

Dos 85 templos originais, restam 22. A maior parte foi destruída ao longo dos séculos, por ter figuras humanas e animais em posições sexuais. Hoje os desenhos são apenas 3% das esculturas, e é comum encontrar turistas decepcionados por ver tão poucas imagens eróticas.

Khajuraho, Índia Khajuraho, ÍndiaOs templos tântricos de Khajuraho são um dos highlights da Índia

É meio estranho pensar nesse passado, em uma Índia hoje cheia de costumes rígidos, com casamentos arranjados e mulheres que pagam dote aos noivos. Herança da moral implantada por invasores muçulmanos e, mais tarde, colonizadores ingleses.

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Só há uma coisa para fazer em Khajuraho: visitar esses santuários, apelidados de “Templos do Kama Sutra”, alusão ao manual de 64 posições sexuais escrito no século 3 por sacerdotes e traduzido para o inglês em 1883.

Na porta dos templos, o próprio Kama Sutra é mato: custa US$ 2, mas é um livrinho vermelho fajuto. É melhor deixar para comprar nas livrarias de Délhi um melhor, para justificar à estante que você trouxe “lá da Índia”.

Infinita highway

As estradas indianas podem até ser reprocháveis, mas é bom encará-las para entender a atmosfera do país: abra alas para a vaca passar e veja caminhões ultracoloridos, plantações cheias de espantalhos (sim, eles existem) e peregrinações de religiosos que fazem a pé o mesmo percurso que você. E os vilarejos vão se emendando uns nos outros, deixando poucos espaços vazios no país em que a população passa de 1 bilhão.

Na terra do Ganges — a cidade sagrada da Varanasi

“Varanasi é para os fortes”, dizem os viajantes pelo caminho. Eles se referem à antiga Benares, a mais sagrada das sete cidades sagradas do hinduísmo – uma Meca local, no nordeste do país.

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É uma das mais antigas ocupações do mundo (calcula-se que tenha mais de 2 500 anos), repleta de vacas, cachorros abandonados, iogues na mesma posição há dias, ascetas untados de cinza (os famosos sadhus, homens santos que vivem de doações) e piras funerárias que se acendem na boca do Ganges.

E o Ganges ali é diferente do de Rishikesh: é um rio imundo que protagoniza espetáculos diários de fervor religioso, de gente que mergulha da cabeça aos pés em busca de purificação, já que lá está seu ponto mais sagrado. Ter as cinzas jogadas ali é um passaporte para o melhor dos céus. Ou para a consciência eterna.

Rio Ganges, em Varanasi, Índia Rio Ganges, em Varanasi, ÍndiaJovens hindus praticam ioga à beira do sagrado Ganges

A melhor vista

Para imergir de corpo e alma em Varanasi, hospede-se ao pé do Ganges. O classudo Ganges View, no ghat Asi, é um ícone, com decoração indianíssima e uma vista de babar.

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Para mim, Varanasi ganhou o prêmio no quesito feiura urbana. De fato, um lugar aonde se vai para morrer – ou celebrar a morte – não pode ser esplendoroso. Mas há uma beleza ali.

A presença dos turistas não modifica a ordem natural dos rituais. Varanasi sempre foi assim. E há coisas importantes a fazer por lá, como visitar os ghats (escadarias na beira do rio) ao amanhecer e ver as cerimônias de cremação ao entardecer.

De longe, não avistamos detalhes dos corpos cremados, mas dá para sacar a naturalidade com que tudo acontece. Ninguém chora, e o corpo queima por mais de três horas, até que se jogam as primeiras cinzas no rio (às vezes pedaços de ossos inteiros).

Quem fica mais por lá vai a fábricas de pashminas (Índia afora se fala dos “tecidos de Benares”), ao Templo Dourado, por fora, já que os estrangeiros não entram, e a Sarnath, uma cidadezinha próxima e sagrada para os budistas, onde Buda pregou pela primeira vez.

Varanasi é religiosa até o osso. Como George Harrisson disse: “As pessoas lá têm uma força espiritual tremenda, que não acho que exista em qualquer outro lugar”. Nem é preciso conhecer o mundo inteiro para concordar com ele.

Revista Viagem e Turismo — julho de 2014 — edição 225

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