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Para todos

Praias desertas, montanhas, cachoeiras, feira literária, esportes radicais, cachaças, peixe com banana, arquitetura colonial. Paraty tem de tudo um muito

Por Nana Tucci
Atualizado em 16 dez 2016, 08h41 - Publicado em 3 Maio 2012, 12h21

Se Paraty brincasse de ser isto ou aquilo, ficaria na moita. Afinal, trata-se de uma cidade colonial ou praiana? Ideal para quem gosta de mar ou de montanha? Destino de endinheirados ou desencanados? Paraty é pluripartidária: não toma o partido de ninguém e toma o de todos. Acolhe o barqueiro que conhece as dezenas de praias de sua baía, os aventureiros que exploram suas ilhas pouco frequentadas, os artistas que se equilibram em pernas de pau por suas ruas de pedra e os estrangeiros que, encantados por tanta multiplicidade, escolhem a cidade para passar o resto da vida.A primeira Paraty que salta aos olhos dos visitantes, não há como negar, é a colonial. Não são dois ou três casarões. Falamos de dezenas de construções do século 18 – o Centro Histórico é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – orgulhosamente gastas, muitas delas com flores crescendo em cima do telhado. Nelas estão os restaurantes, as cafeterias, as pousadas, os ateliês e as casas culturais que compõem o Centro Histórico. Ah, sim, tudo ilustrado por seu chão de largas pedras que nos ensina a caminhar sem pressa. Mas, diante do impressionante conjunto, quem vai querer se apressar, não é mesmo?Ataques piratasCaminhar despretensiosamente pelo Centro Histórico traz boas surpresas. Como passar por um vendedor de doces, daqueles antigos, que pilotam carrinhos em formato de tabuleiro, e comer um bolo caseiro recém-saído do forno. Ou então errar o caminho e ir parar no cais, bem na hora em que o sol dispara aquela meia-luz sobre uma porção de barcos ancorados balançando pra lá e pra cá. Mas também pode ser interessante andar, ao menos um dia, com um guia local, que irá, por exemplo, explicar a você por que o Centro Histórico tem esquinas desencontradas – a lenda diz que os portugueses fizeram assim para defender o local de ataques piratas.Se você é chegado em bater pernas, vai ter motivos para se sentir como se tivesse ido à malhação ao passear pelo Centro Histórico. É que a região é cheia de lojas de roupas, decoração e artesanato, sem falar nos ateliês, como o da artista mexicana Patrícia Sada, que faz telas com folhas e troncos de árvore. Já no Atelier Aracati, Fernanda Strino e Marcelo Dalto transformam moedas antigas que eles caçam mundo afora em delicados pingentes. Entre uma e outra compra (ou espiada), é de muito bom-tom fazer uma pausa no Café Pingado, onde o café pode ser servido com geleia de gengibre ou com a cachaça local. O lugar também manda bem no manuê de bacia, um bolo feito com açúcar mascavo. Ali perto, o Armazém Paraty, onde você encontra artigos indígenas, inaugurou no ano passado um mix de bar e restaurante nos fundos da loja, com direito a tapiocas, petiscos e caipirinhas.À noite, o Centro ganha iluminação artificial. É hora de escolher em qual de seus muitos bons restaurantes você vai se sentar. Aposte no Banana da Terra, de Ana Bueno, que faz o estilo rústico-chique, ou no Thai Brasil, da alemã Marina Schlaghaufer. Às quartas e aos sábados, para finalizar bem o dia na cidade, é legal curtir uma apresentação de teatro de bonecos no teatro espaço (compre ingresso com pelo menos um dia de antecedência).Mas a cidade é muito mais do que seu Centro Histórico. Há a Paraty ilustrada, a da Flip, a Festa Literária internacional (que no próximo mês de julho completa dez edições), e a do Bourbon Festival, que em junho leva ao público shows gratuitos – o jazzista americano John Pizzarelli já tocou no evento. Uma Paraty rural se exibe na estrada que liga a cidade a Cunha, com pousadas e clima de montanha. É lá que se concentram o Caminho do Ouro, os consagrados alambiques e as cachoeiras. A melhor para banho é a Pedra Branca, mas as crianças vão pirar na Tobogã. Como o nome sugere, a água escorre por uma enorme pedra que vira um tobogã natural. Rola até um torneio de “surfe na pedra”.Quanto ao Caminho do Ouro, já foi um grande atrativo, mas anda largado. É a trilha que percorre trechos do caminho aberto no século 18 para o escoamento do ouro que vinha de Minas e deixava o Brasil pelo porto de Paraty. Hoje faz parte do complexo turístico-rodoviário da Estrada Real. Se quiser conhecê-lo sem depender de guias locais, contrate uma agência no Centro. E é lá, no Caminho do Ouro, que está a Quinta do Tiê – fica a 6 quilômetros do Centro –, espaço cultural integrado à natureza que, em um domingo por mês, realiza um megabazar de compra e troca de obras de arte, roupas, acessórios e móveis de antiquário.Radical, peixe no varalSe nada disso pegar você, é hora de seu estômago ser chamado a “opinar”. Em Paraty, longe do Centro Histórico, há dois restaurantes franceses estrelados pelo GUIA BRASIL 2012. Se você estiver na Estrada para Cunha, vá ao Voilà Bistrot, na Pousada Caminho do Ouro. E do quilômetro 558 da BR-101 sai a Estrada para Graúna, onde fica o Le Gite d’Indaiatiba, dentro da pousada homônima.Como se viu, é possível almoçar em um bistrô francês no meio da montanha ou… em um bistrô em uma casa na árvore. Numa construção de madeira e bambu suspensa entre uma jaqueira e uma árvore folha-de-bolo, no quilômetro 565 da BR-101, Ismael Sousa recebe os visitantes em seu Bistrô Amigos. Enquanto ele papeia, sua mulher, Maria dos Remédios, prepara o banquete – um menu degustação surpresa com quatro pratos, com foco em peixes e frutos do mar. Peça a Ismael (para locais e não locais, Ismaelzinho) que faça as crocantes bananas fitas com açúcar e canela.Se comer na árvore é exótico, o que você acha de um peixe com banana enrolado na folha de bananeira, na casa de um nativo da Ilha do Araújo? É o que propõe Almir Tã, o líder comunitário do pico, que fica no quilômetro 585 da BR. Mas é mais fácil ir de barco, numa viagem de 45 minutos desde o cais de Paraty. Esse passeio é uma das iniciativas de um projeto de turismo sustentável, uma novidade no município fluminense. Além de apreciar o rango, é possível se hospedar por três dias na casa de um morador e vivenciar sua rotina, como pescar e ajudar a fazer farinha de mandioca. A diária custa R$ 60, com todas as refeições incluídas (robalo e gunguito são os hits do pedaço).Ali ao lado, no quilômetro 584, há as atividades no Quilombo do Campinho, onde moram 120 famílias. Aproveite um dos três roteiros de aventura que rolam por lá e incluem um quê de atividades antropológicas, como uma conversa com os quilombolas mais antigos do Campinho. No final, experimente o palmito pupunha cozido, iguaria local, no restaurante da comunidade.Já a Vila de Trindade, na Praia do Sono, mantém a tradição de secar o peixe pregado num varal. Sororoca, cavala, tainha e carapau são tratados com sal refinado e descansam de um dia para o outro. Depois são servidos acompanhados de batata-doce ou abóbora. Se você quiser provar a delícia local, ligue para um pescador e encomende (e tenha dinheiro vivo para pagar).Praia pra que te queroDiferentemente da vizinha Angra, as traineiras ainda resistem em Paraty. E também barqueiros com muitas décadas de lida, como Manoel Crispim, que aos 81 anos mantém um pique de garoto e sabe dizer onde estão até os melhores pés de lichia de lugares como o lindo Saco do Mamanguá – aonde só se chega de barco (que parte do cais de Paraty ou da mais próxima Paraty-Mirim).Muitos barqueiros levam turistas às praias da Lula, Vermelha e de Santa Rita, a uma hora do continente – é comum o passeio estar incluído na diária de algumas pousadas. Mas é no Saco do Mamanguá que os mais abastados tomam sol e fazem o passeio que, segundo Tetê Etrusco, dona da bela Pousada Casa Turquesa, é um must-go. Ele inclui atividades como trekking e canoagem oceânica. Os roteiros podem até ter pernoite em casas de moradores, mas também dá para fazer o passeio no esquema bate e volta.A sua é mergulhar? Explore as ilhas mais afastadas da costa, a cerca de uma hora de barco. Nesses lugares, como a Ilha dos Cocos, a água é verde-Maragogi. Dá para ver arraias e tartarugas no fundo do mar. O lado sul de Paraty tem praias desertas e de acesso muito complicado por barco ou caminhada (ou uma combinação dos dois). Para visitar praias como a do Sono, Antigos e Antiguinhos, dirija até o Condomínio das Laranjeiras ou até Trindade e contrate barqueiros até as praias.Paraty, sinônimo de cachaçaParaty foi a grande região produtora de cachaça nos tempos do Brasil Colônia. Os mineiros, que há décadas são os principais (e melhores) produtores do Brasil, teriam aprendido o know-how quando por ali passaram para levar ao porto local o ouro que era enviado a Portugal. “Cachaça era moeda de troca”, diz o consultor Erwin Weimann. Paraty, que é sinônimo consignado em dicionário de cachaça, tem um terroir especial de salinidade acentuada. Vale conhecer alambiques como o Engenho D’Ouro (engenhodouro.com.br), onde a “marvada” é envelhecida em jequitibá; o Pedra Branca (cachacapedrabranca.com), com sua cachaça já tida como a melhor do Brasil em eventos do setor; o Maria Izabel (mariaizabel.com.br); e o Empório da Cachaça (cachacaparaty.com.br), que acaba de inaugurar um museu cujo acervo tem a Pelé, de 1958, que você vê protegida por plástico. Custa a bagatela de R$ 17 000.Na próxima página, veja onde ficar, comer e passear em Paraty.Paraty (DDD 24)FICARLuxo é sinônimo da Casa Turquesa (Rua Doutor Pereira, 50, casaturquesa.com.br; diárias desde R$ 1 100; Cc: A, D, M, V). No Santa Clara (BR-101, km 563, santaclarahotel.com.br; diárias desde R$ 500; Cc: A, D, M, V), os quartos têm vista para o mar e as montanhas. A Vivenda (Rua Beija-Flor, 9, vivendaparaty.com; diárias desde R$ 260) tem três quartos, dois com cozinha equipada. Com crianças, opte pela Corsário (Rua João do Prado, 26, pousadacorsario.com.br; diárias desde R$ 176; Cc: A, D, M, V), que tem piscina de bolinhas.COMERNovidade em Paraty é a kebaberia Istanbul (Rua Manoel Torres, Shopping Colonial, 9259-6534). No Centro Histórico, na Rua Dr. Samuel Costa estão o Café Pingado (no nº 11, cafepingadoparaty.blogspot.com.br), as tapiocas amáveis do Armazém Paraty (nº 18, 3371-2082) e o peixe com banana do Banana da Terra (nº 198, restaurantebananadaterra.com.br; Cc: A, D, M, V). No Thai Brasil (Rua do Comércio, 308-A, thaibrasil.com.br), vá de camarão com aspargos e arroz de jasmim. O Voilà Bistrot (Pousada Caminho do Ouro, Estrada para Cunha, km 4, pousadacaminhodoouro.com.br; Cc: A, D, M) serve crème brûlée. Outro francês é o Le Gite d’Indaiatiba (Pousada Le Gite d’Indaiatiba, Estrada para Graúna, BR-101, km 558, legitedindaiatiba.com.br; Cc: M, V). Já o Bistrô Amigos (BR-101, km 565, 9918-6715) é uma casa na árvore. Para uma experiência mais antropológica, agende um almoço com Almir Tã (9841-8752).PASSEARPara as praias próximas, como Vermelha e da Lula (45 minutos de viagem), procure um barqueiro no cais da cidade, como o decano Crispim (9913-4957; passeios para até 10 pessoas desde R$ 150). Para as mais distantes, como Saco do Mamanguá, Cajaíba, Ilha do Araújo e Ilha dos Cocos, vá a Paraty-Mirim e contrate barqueiros como o Valdir (9995-7866; passeios desde R$ 150). É no Mamanguá que estão os esportes radicais, como trekking e canoagem oceânica, da Interação Ambiental (3371-1951). Quer conhecer Sono, Antigos e Antiguinhos? Em Trindade, embarque com o Robson (9949-2594; passeios desde R$ 40). No Centro, são bons programas a Casa da Cultura (3371-2325), os ateliês Aracati (atelieraracati.blogspot.com) e Patrícia Sada (patriciasada.com.br) e o teatro de bonecos do Teatro Espaço (teatroespaco.com.br). A Paraty Tours (paratytours.com.br) leva ao Caminho do Ouro. Rafting no Rio Mambucaba é com a Ativa (ativarafting.com.br). Caso queira conhecer a comunidade Quilombo do Campinho, fale com o Sinei (3371-4866). E informe-se sobre o bazar da Quinta do Tiê (3371-2067).

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