Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Mais revival: escatologias natalinas 2

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 16h15 - Publicado em 23 dez 2007, 12h12

 
Quem achou que um homenzinho fazendo cocô em um presépio era surreal demais pra ser verdade ainda não viu nada.

Nos lares catalães mais tradicionais, aquele tiozão mais balofo não padece com um chumaço de algodão grudado na cara com fita crepe e nem arrisca a vida entrando pela janela com algumas doses de uísque na cabeça. No lugar do velhinho roliço, um tronco de árvore com uma carinha feliz é o encarregado da distribuição dos presentes. “Ah, vá”, você deve estar pensando. Então dê uma volta pela feira natalina armada na frente da catedral e veja quantos pedaços de madeira com um sorriso estampado no “rosto” você vai encontrar para cada Papai Noel empoeirado no fundo do estande.

Esta peculiar figura natalina atende pelo nome de caga-tió, que só não dispensa tradução porque tió quer dizer tronco, em catalão. Antes do jantar do dia 24, ou do almoço do dia 25, se realiza o ritual da “cagada del tió”. As crianças são levadas a um quarto onde devem rezar três Pais Nossos e pedir que Jesus lhes traga sorte. É o pretexto para que os pais escondam os presentes embaixo de uma manta que costuma envolver o tió. Com a volta dos pimpolhos, começa o espetáculo da “cagada”.

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Armadas de pedaços de pau (!), as crianças espancam (!!!) o pobre tronco enquanto cantam esta musiquinha: “Caga tió, tió del bo, si no, et dono un cop de bastó” (algo como “Caga tió, tió do bom, se não, te dou um golpe de bastão”). Terminada a cantoria infantil e a violência gratuita contra o pedaço de madeira, a manta é levantada e o tronco “caga” os presentes.

Em tempos menos capitalistas, o tió era um pedaço de lenha como outro qualquer, queimado dentro das casas para trazer bens tão preciosos como o calor e a luz, fundamentais para dar outros presentes aos moradores, como as comidas quentes, os torrões (uma febre catalã) e etc. Com o tempo, a tradição do tronco evoluiu. Na época do natal, ele passou a ganhar uma “carinha” desenhada, a ser enrolado em uma manta e a “trazer” quitutes para os pimpolhos. Até que os tempos modernos chegaram. E os tiós globalizados tiveram que aprender a cagar Barbies, Playstations e Ipods.

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